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segunda-feira, 9 de abril de 2012

Reportagem Especial Epitácio Filho



Desde infância, transito pela cidade de Messias Targino, no médio-oeste do Rio Grande do Norte. Inicialmente, no começo dos anos setenta do século passado, há mais de quarenta anos, acompanhava meu pai Epitácio de Andrade, em viagens semanais, quando ele ocupava o cargo de secretário de administração, na gestão do prefeito Inácio Gabriel da Silva, seu Inácio Pereira, que na foto aparece ao lado de meus avós paternos, no casamento de meus pais, em 1959.


A viagem de Patu, município do qual foi desmembrado, a Messias Targino, era um sacrifício! No jeep de Job ou no Toyota de Tião Tavares. Durante o verão, a trepidação fazia “dançar” o veículo na estreita estrada, e no inverno, a ameaça era a travessia dos riachos da Beleza e da Serra Preta.
No bicentenário da paróquia de Patu - Foto: Luiz do Foto.
No início da adolescência, estudei com vários messienses no Ginásio Municipal de Patu, onde meu pai era o diretor e minha mãe Lourdinha Holanda era uma das professoras. No dia 07 de julho de 1977, num desfile alusivo ao bicentenário da paróquia de Patu, conduzi pelo trajeto uma placa em homenagem ao padre José Kruza, um dos lutadores pela construção da capela de Messias Targino.
Desde tenra idade, vi serem sedimentadas as bases comportamentais que nortearam, ao longo dos anos, a amizade de minha família com os “Tomaz de Almeida” do velho Junco. Do ex-vice-prefeito Otoniel, de saudosa memória, ao músico Zé Tomaz, afilhado de meus pais, existe a marca do respeito e da fraternidade que nos une até hoje. Em doutor Otoni Tomaz de Almeida, meu mestre da língua francesa e de matemática, vice-diretor do Ginásio Municipal, numa parceria harmoniosa e responsável com meu pai, está à prova maior dessa construção social, frutífera e realizadora. Com Gracinha Almeida, mulher sábia, estamos a construir a superação do preconceito de gênero e etnia.
No novo milênio, a cidade de Messias Targino teve um desenvolvimento vertiginoso, ao ponto de ser referenciada e laureada com destaques a nível nacional. Para o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas empresas) parece ser a eterna cidade empreendedora.
Ladeado pelo vereador Pola Pinto e pelo empresário Borginho
O desenvolvimento da cidade é atribuído a ação de diferentes atores sociais que se harmonizam nas suas áreas de atuação. O sindicalista e vereador Pola Pinto desenvolve importante trabalho na área sócio-política, com divulgação de seus trabalhos e com a atração de eventos e investimentos para o município. O empresário Francisco Borges de Andrade, “Borginho”,montou um complexo comercial, que se espalha pelo estado, permitindo o acesso ao consumo de eletromóveis e outros bens de uso às parcelas mais pobres da população.
Borginho escolheu um lugar para expor sua propaganda por meio de um outdoor, de uma forma que a paisagem natural da Serra do Cangaíra compusesse a sua visualização estética, harmonizando o marketing empresarial com a reserva ambiental, idealizada pelo agropecuarista Paulo Targino, filho do fundador da cidade. No ecossistema da Serra do Cangaíra é preservada a vegetação da caatinga e sua fauna, com animais ameaçados de extinção, como o mocó.
Uma das conquistas da cidade está sendo o desenvolvimento da agricultura familiar, com o incremento da produção das culturas tradicionais e de hortifrutigranjeiros, melhorando a renda das famílias e seu padrão alimentar. Tive oportunidade de conhecer a feira agroecológica: Fiquei encantado com a qualidade dos produtos oferecidos e não resisti à galinha caipira com cuscuz pilado (no pilão).

Com o desenvolvimento social, a população messiense está ampliando a sua consciência crítica. No dia 18 de maio de 2002, iniciamos por Messias Targino, o cortejo antimanicomial, que saiu defendendo e viabilizando as intenções da reforma psiquiátrica brasileira, passando por Patu (em parceria com o professor Aluísio Dutra), Belém (com meus familiares) e Brejo do Cruz (com o ator Edilson Dias), na Paraíba, Jardim de Piranhas (com o vereador professor Gute), concluindo o trajeto em Caicó (com o sanitarista Pacífico Fernandes).
O desenvolvimento social também tem contribuído para aumentar a expectativa de vida da população messiense. Como resultado das ações do cortejo antimanicomial de 2002, foi implantado, provisoriamente, o centro de convivência do idoso, cuja inauguração recente de sua sede própria, contou com as presenças da deputada federal Fátima Bezerra e da prefeita Shirley Targino.
Não é recente a integração de nossas ações profissionais e socioculturais em defesa do município de Messias Targino, com o resgate de personalidades que compõem a sua história. Assim vem sendo os trabalhos de inspiração histórica voltados para a preservação da memória da cidadã centenária Francisca Tavares de Oliveira (1884-2002), “Dona Chica Brejeira”, a pessoa que alcançou maior longevidade no Brasil, e do médico Edino Jales de Almeida (1940-73), um dos pioneiros da medicina científica no sertão nordestino.
No dia 09 de abril de 1998, celebramos meu aniversário no hospital-maternidade Dr. Aderson Dutra, em Patu. Entre os presentes, estavam: A diretora do hospital Vanda Godeiro; o artífice do ferro Luiz Tavares; as professoras Raimunda Cleonice Dantas e Isabel Saraiva Forte; e o cantareiro “Pernambuco”, artesão responsável pela decoração com pedras de várias obras regionais, entre elas o Santuário do Lima, além de pacientes e familiares. A data marcou o início das ações de saúde mental no município de Patu e resgatou a memória do médico Edino Jales de Almeida, atribuindo seu nome ao programa recém-implantado.
No ano seguinte, com 115 anos, Dona Chica Brejeira nos acompanhou numa visita a Sereno na comunidade Jatobá, na zona rural de Patu. Foi a continuidade de um trabalho social que resultou no auto-reconhecimento do Jatobá, como a primeira comunidade remanescente de quilombos, completamente legalizada e legitimada no Rio Grande do Norte.
Dona Chica Brejeira participou ativamente do passeio e elevou a auto-estima dos quilombolas do Jatobá. Visitou a capela de São Benedito e rezou pela saúde de Sebastião Severino, “Sereno”, líder da comunidade, confortando-o. Os quilombolas retribuíram a visita comparecendo em massa a missa celebrada para comemorar o seu aniversário em Messias Targino.
A visita de Dona Chica Brejeira a comunidade quilombola do Jatobá foi um marco histórico da negritude potiguar e ficou registrada em fotografias que os comunitários ostentam em murais na sala principal da casa grande do velho líder Sereno.
No ano passado, tive o prazer de escrever a apresentação do folheto de cordel “A História de Chica Brejeira”, do poeta Basto do Córrego Verde. Sobre Dona Chica, redigi: “Tive oportunidade de desfrutar da agradável companhia e amizade de Dona Chica. Sou testemunha da sua lucidez de consciência e de sua higidez física”.
Ainda sobre Dona Chica: “A história da mulher de maior longevidade já registrada no país, começa no Sítio Salobro, zona rural de Messias Targino/RN, em 15 de setembro de 1884, e veio a falecer, na sua residência, em 31 de dezembro de 2002, aos 118 anos”.
O folheto de cordel sobre Chica Brejeira retrata em 40 estrofes de 07 versos a vida da digna mulher de descendência da negritude, que desde adolescência, cultivava o hábito de“fumar brejeiro”, daí o apelido, constituindo um verdadeiro desafio à ciência contemporânea.
Sobre o autor, escrevi: “Sebastião Ernesto dos Santos, conhecido como ‘Basto do Córrego Verde’, é natural de Jardim de Piranhas/RN, nascido em 20 de janeiro de 1951. Basto é agricultor familiar aposentado e residente no Sítio Córrego Verde no município de Patu/RN, com vida social em Messias Targino/RN, onde é sócio do Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (SINTRAF)”.
Participei do lançamento do primeiro impresso do poeta Basto do Córrego Verde, em julho de 2011, durante concorrida atividade cultural, promovida pelo Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar, que contou com a participação do cantor Diassis Tomaz de Almeida e estava exposta ao público, compondo o acervo museológico da festa, a viola que pertenceu ao menestrel da cantoria Chico Mota.
Em Messias Targino, tenho tido uma dupla intervenção social. Como agitador cultural e profissional médico do campo da saúde mental. Mais de uma centena de pacientes, acompanho ou já acompanhei no município. Quando estava recluso nas dependências da delegacia local um andarilho em amnésia total, fui acionado para intervir no problema, conduzindo-o para o hospital geral de Janduís/RN, e depois devolvê-lo à família, em Teresina, capital do Piauí.

Andarilho resgatado em Messias Targino
Nesta mesma época, final dos anos noventa do século passado, fui convidado pelo presidente da Câmara de Vereadores Cleiston Rubens, “Rubinho”, hoje vice-prefeito, e pelo vereador Pedro Jales Neto para participar, como expositor, de uma audiência pública para discutir a questão da saúde mental no município, oportunidade que apresentei idéias sobre a necessidade de uma equipe multiprofissional, a implantação de um centro de convivência do idoso e a viabilização de Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de referência, num consórcio com o município de Patu.

Não seria esta a última parceria com vereadores de Messias Targino. O vereador Antenor Medeiros, “Nonô”, foi o advogado da nossa família no processo do inventário de pai Epitácio Andrade, falecido em 25 de dezembro de 1993.

O vereador Anderson Medeiros participou ativamente do lançamento do meu livro “A Saga dos Limões – Negritude no Enfrentamento ao Cangaço de Jesuíno Brilhante”, compondo a mesa de convidados e representando o poder legislativo local.
A produção do documentário “Cangaço e Negritude”, da Rede Potiguar de Televisão (RPTV), sob a direção do jornalista Ana Paula Lopes, dedica parte considerável a personagens messienses, como a prefeita Shirley Targino, o vereador Pola Pinto e o poeta Basto do Córrego Verde, além de ter contribuído para esta organização não-governamental receber prêmios a nível nacional.
A dissertação de mestrado “Lugares de Memória– Jesuíno Brilhante e os Testemunhos do Cangaço no Oeste do Rio Grande do Norte e Fronteira Paraibana”, da professora Lúcia Holanda, defendida no final de 2010, na pós-gradação de geografia da Universidade Federal da Paraíba, envolveu agentes culturais de Messias Targino e estudantes, na sua pesquisa de campo no município vizinho de São José do Brejo do Cruz, identificando o lugar de memória, correspondente ao local da morte do cangaceiro Jesuíno Brilhante, em 1879.
O estudante Francisco Ivo Neto, com 8 anos, participou das etapas da pesquisa de campo da dissertação de mestrado da professora Lúcia Maria de Souza Holanda, acompanhando o pesquisador Epitácio de Andrade Filho, coorientador do trabalho, e o poeta paraibano Gil Hollanda, grande fomentador cultural. O pai de Ivo Neto, vereador Pola Pinto, recebeu nota elogiosa nos agradecimentos da mestra, por seu trabalho de divulgação da pesquisa.
Nosso trabalho cultural em Messias Targino também é estimulador da alfabetização de adultos. Um exemplo é Océlio Pinto, portador de deficiência neurossensorial, que está trilhando o caminho das letras.
Sou presença freqüente em Messias Targino. Com a professora Cristina Cláudia Ferreira, com quem no último dia 29 de fevereiro, completamos bodas de porcelana (20 anos de casamento 1992/2012), fazemos visitas a familiares, como o contabilista Miguel Arcanjo de Almeida e o empresário Lacerda, além de amigos, como Océlio (na foto acima) e o missionário Itamar Almeida.
Não foi em vão que escolhemos a cidade de Messias Targino, para lançar em primeira mão, no dia 10 de julho de 2011, o nosso livro “A Saga dos Limões – Negritude no Enfrentamento ao Cangaço de Jesuíno Brilhante”. Trata-se de cidade empreendedora, cuja população está em franca expansão cultural.

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