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terça-feira, 20 de dezembro de 2022

70 Anos de Fundação da Capela de Nossa Senhora de Fátima - Sítio Cajueiro Patu RN.



A Capela de Nossa Senhora de Fátima que fica localizada no Sítio Cajueiro, zona rural de Patu-RN, comemora os seus 70 anos de fundação, a mesma construída nos anos de 1952 e 1953 por Francisco Avelino dos Santos, conhecido por “Chicó Avelino” proprietário das terras onde ela foi construída. A ideia para a construção da Capela de Nossa Senhora da Fátima surgiu em virtude de uma promessa da esposa do senhor Chicó Avelino, dona Severina Severiana de Santana, que faleceu antes de cumprir com promessa.  Na verdade a capela seria construída para São Francisco, mais como já existia uma capela em devoção a este santo na comunidade do Coroatá, tendo São Francisco como padroeiro, ele resolveu fazer em homenagem a Nossa Senhora de Fátima, onde a imagem  veio de Portugal, na época em que a capela foi construída. 

Logo quando a capela foi construída, havia muitos moradores na Zona Rural, onde sempre aconteciam grandes celebrações, inclusive missões de  Frei Damião e Frei Fernando. 

Por mais três décadas, esta capela ficou  fechada. Nos anos 90, ela foi restaurada por Jorge Pereira de Castro Júnior, conhecido por Júnior Baiano (neto de Chicó Avelino)  e foi reaberta  com ajuda da sua esposa  Socorro Castro, “Socorrinha”onde passou acontecer várias atividades como: novenário do mês de maio, coroação de Nossa Senhora, catecismo, batizados e casamentos, com os moradores da comunidade local e da vizinhança.  As catequistas eram: Hemilkiane ,Carlinha, Rafaella e Edivaneide que faziam parte da Renovação Carismática Católica de Patu, pertencente a Paróquia de Nossa Senhora das Dores. 

No mesmo período, Branca de João Pereira, conseguiu comprar alguns bancos com doações de familiares e amigos e fez também o altar, porque antes só possuía uma mesa. Durante muitos anos, Rita Carrapina e América foram zeladoras da Capela de Nossa Senhora de Fátima. Hoje a mesma é zelada por Mônica e América, moradoras da comunidade. Atualmente são celebradas as novenas do mês de maio e coroação a Nossa Senhora, tendo como responsáveis, Socorro Castro e Hemilkiane, e no mês de Dezembro é realizado o Natal das crianças e das pessoas da comunidade e vizinhanças, com distribuição de presentes e lanches. Em janeiro de 2022, foi realizado o batizado da Neta ( Maria Isabela) do casal Júnior Baiano e Socorro Castro. Esse foi um pequeno relato da Capela de Nossa Senhora de Fátima que comemora neste ano de 2022 e 2023, setenta anos de existência. Parabéns a todos da comunidade rural Cajueiro.  

Fonte das informações e fotos:

Socorro Castro.

Galeria de Fotos Referentes a Capela de Nossa Senhora de Fátima

Sitio Cajueiro - Patu-RN

Parte Fronta da Capela
Padre Tarcísio Weber em celebração na Capela
Famílias da comunidade
Comunidade participando de celebrações na Capela
Coroação a Nossa Senhora de Fátima.
Renovação Carismática Católica de Patu-RN
Realizações de Batizados.



terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Momentos da História de Patu RN "O Casamento do Cangaceiro Jesuíno Brilhante.



O casamento de Jesuíno Alves de Melo Calado "Jesuíno Brilhante" com Maria Carolina da Costa e Lima foi realizado em Patu no dia 07 de Novembro de 1863. Ele filho legítimo de João Alves de Melo Calado e de Alexandrina Maria do Amor Divino. Ela filha legítima de Joaquim Monteiro de Moura e de Anna Joaquina de Souza.

Jesuíno Brilhante nasceu no ano de 1844, Sítio Tuiuiú, Zona Rural do Município de Patu-RN. Por volta dos seus 25 anos, entrou para o cangaço em virtude de desavença com membros da família Limão. Vários crimes aconteceram e o cangaceiro foi procurado constantemente pelas forças de segurança dos estados do Rio Grande do Norte e Paraíba. Faleceu no ano de 1879 na comunidade Palha, Riacho dos Porcos - São José de Brejo do Cruz PB.


Antiga Capela de Nossa Senhora das Dores Patu-RN

Fonte: Livro de Registros de Casamentos da Paróquia de Nossa Senhora das Dores.

Patu RN.

Apoio e colaboração: Fabio Nogueira e Aldenísia Câmara.

Foto: Arte produzida por Alzir Alves.

Artigo: Márcio de Lima Dantas.

Clarissa Torres: feminilidade e ruptura de paradigmas

O livro de Maria Bezerra, Emancipação política da mulher potiguar (Natal: Sapp, 2019), vem preencher uma lacuna no que diz respeito à existência de material como fonte primária para eventuais pesquisas futuras. Sempre que nos chega material com essa espécie de conteúdo, exultamos, pois nossa História enriquece o cabedal de obras que sistematiza de maneira rigorosa o tema proposto.

Eis no que se inscreve o precioso livro da inesquecível Assuense Maria Bezerra, que não apenas registra de maneira disciplinada, por meio de datas, situação geográfica, bem como desenhos de rosto das mulheres que ocuparam cargos públicos no estado do Rio Grande do Norte. A impressão que passa é que tudo foi meticulosamente calculado num gesto amoroso, não discriminando ou deixando de fora quem quer que fosse.

Consabido é que o Rio Grande do Norte foi o lugar no qual irrompeu a emancipação política da Mulher, com a primeira eleitora do país, Celina Guimarães, bem como a primeira prefeita, Alzira Soriano. Tais fatos históricos parecem que decantaram no imaginário coletivo as raízes do que pósteras mulheres ocupariam os lugares que sempre pertenceram aos homens. Na História há sempre uma primeira luz que irrompe onde é sombrio e se repetem os lugares ocupados pelos mesmos desde sempre, como é o caso do masculino na política. Então emana uma chispa de luz que vem a ser não fogo de coivara, levado pelo vento, mas sólida fogueira de boa madeira que arderá, iluminando a marcha da História em direção ao futuro.

É o que sucede hoje em dia. Tornou-se banal a mulher ocupar cargos em todos os níveis da política. Embora algumas ainda mantenham um comportamento advindo do patriarcado, contudo, isso não é regra geral, visto que uma grande parte

prefere não repetir posturas masculinizadas ou autoritárias. Evoco aqui a amiga de Maria Bezerra, a escritora Maria Eugênia Maceira Montenegro, que foi prefeita de Ipanguaçu, criando bibliotecas, teatro e atividades que fortalecessem o espírito. Nunca esquecendo de dar guarida aos desabrigados das enchentes ou das secas.

O livro de Maria Bezerra chegou com o frescor do novo, ou seja, é bastante atual, pois mais e mais a mulher busca sua igualdade face aos homens. E isso em todos os níveis: no trabalho, nas profissões, na divisão das tarefas domésticas com seus cônjuges, enfim, na política, como bem cartografou o livro, mapeando todo o estado do Rio Grande do Norte, demonstrando que muitas informações ainda estão por se fazer divulgar, para que a mulher compreenda seu lugar de igualdade com os homens.

Gostaria de lembrar os desenhos à caneta esferográfica de Iran Dantas, artista de grande talento de Currais Novos. Os de algumas páginas internas são extremamente simples, o fundo preto com o rosto desenhado de branco. O que os torna de uma sofisticação eivada de simplicidade, a coisa mais difícil em arte: dizer o muito com o pouco. Ele o faz com poucas linhas, impregnando de grande poder de sugestão, fazendo saltar do papel a figura desenhada.


Márcio de Lima Dantas.

Professor de Literatura Portuguesa do Departamento de Letras - UFRN.


Artigo de Márcio Lima Dantas.



Careca: teoria e arte do fazer artístico.


Nem sempre parece evidente o fato de que um artista plástico elabora sua obra em algum tipo de suporte, detendo consciência do seu processo de feitura. Ocorre, via de regra, ser o resultado de um talento que não necessitou passar pela Teoria da Arte para que se fizesse pintor ou escultor. A grande maioria é de autodidatas nascidos com alguma espécie de talento abençoado pelas mágicas mãos das musas.

O talento é algo enigmático. Podemos compreender por meio de uma história familiar na qual existiram ou existem pessoas que de forma profissional ou amadora fazem arte. Nesse sentido, o artista familiarizou-se ou foi ensinado a dominar determinadas técnicas. Porém, essa não é a regra.

O que sucede é que algumas pessoas não se contentam em serem criaturas e se arvoram a serem criadores. Eis aqui, talvez, onde se inscrevem aqueles que trazem consigo uma imanente vontade de se expressar por meio de formas não copiadas do mundo, mas resultado de confluências de vetores que caminham para um mesmo ponto. De garatujas interiores passam a tomar formas exteriores: eis que surge o objeto de arte, sobretudo fruto das mãos e do atento olhar de quem busca transcrever o que sentira em seu íntimo.

Não que seja necessário ter o domínio da História da Arte, da Teoria das Cores ou da Geometria. Os naifs, primitivos ou ingênuos estão aí para desmentir essa obrigação de conhecimentos prévios acerca do que se pretende engendrar. Lembro, por exemplo, de um contemporâneo de Acari, o pintor primitivo Nilson, cujo domínio das formas e cores chegam a deleitar um corpo com tanta contemplação feita a partir de palnos extremamente simples. Beleza advinda de um homem simples de uma cidade do interior. É um mestre na combinação de cores, sobretudo nos animais retratados.

Tenho para mim que quando as duas coisas se juntam, a lucidez/consciência do fazer artístico e o talento, ocorre o triunfo da obra de arte resultado de uma gramática que a reveste de grande valor estético, na medida em que o artista é senhor dos seus meios, compreendendo

matematicamente o que faz, sabendo explicar a um eventual expectador o motivo pelo qual usou tais recursos buscando determinado efeito.

Lembro aqui das longas e agradáveis conversas com o artista plástico Careca. Nunca deixa uma pergunta sem resposta. Discorre com propriedade acerca das cores, dos planos e das perspectivas empregadas nos seus trabalhos. Tendo primeiro sido autodidata, contudo, depois aprimorou-se, sendo Bacharel em Arquitetura. Passando a lecionar cursos ou oficinas, nas quais mostra seu conhecimento teórico do que ele prática na sua obra.

O seu conhecimento sobre as cores é bastante profundo, sendo capaz de explicar acerca do círculo das cores, demonstrando oposições ou tons que concorrem para certos efeitos. Talvez não seja à toa a sua grande capacidade de provocar efeitos cromáticos inusitados nos seus trabalhos, ou seja, o que chamamos de grande colorista, a capacidade de apascentar o olhar por meio de uma íntima contemplação.

Todas as suas séries são previamente refletidas, não deixando passar tal fato a um apreciador atento, pois resulta de uma deliberada lucidez, de quem sabe o que está fazendo. Sintomático é que o curso que escolheu para fazer tenha sido a Arquitetura. Essa arte requer, mais que as outras, de um domínio matemático e geométrico para que se erga o edifício que se deseja chantar em algum espaço.

De espírito recatado, o silêncio não é atributo dele, pois parece sentir prazer em conversar sobre sua arte e seus modos de fazer. Como dizemos, “conversa aprumada”, de pessoa séria e de caráter manso, voltando sempre a explicar um detalhe conseguido por meio de um artifício.

Conversar com Careca é, antes de tudo, um exercício de aprendizagem para quem se interessa por arte. Para um crítico, é um deleite e uma boa oportunidade de acrescentar conhecimento por meio de um artista consciente dos meios que usam para lograr êxito com determinado fim: a obra de arte.


Márcio de Lima Dantas.

Professor de Literatura Portuguesa do Departamento de Letras - UFRN.


sexta-feira, 27 de maio de 2022

Governadora Fátima Bezerra Cumprirá hoje (27/05) agenda de inaugurações em parceria com a prefeitura em Patu RN.


 

A Governadora do Rio Grande do Norte,Fátima Bezerra, estará hoje em Patu RN (27/05/2022) para cumprir agenda administrativa de inaugurações, em parceria com a Prefeitura Municipal. O evento terá início a partir das 18 horas com a seguinte programação:

Inauguração do Recapeamento e sinalização da estrada de acesso ao Santuário do Lima, Urbanização, calçadão e iluminação das avenidas Antônio de Lima e João Fernandes Dantas Neto, Corredor Turístico Cultural Hardison Marcelino, Reforma do Cemitério Municipal e Recapeamento e sinalização da Rua Dr. José Augusto. Várias autoridades políticas do estado participarão da programação organizada pelo Prefeito Rivelino Câmara. A  obra do calçadão e iluminação da estrada de acesso ao Santuário do Lima era um sonho dos patuenses. O reitor do Santuário do Lima, padre Luiz Telmo, está muito feliz e agradeceu a Deus, primeiramente, e aos poderes públicos municipal e estadual na concretização desse sonho muito importante para Patu e toda a região. No final da programação de inaugurações haverá festa de confraternização com animação da Banda Circuito Musical.






domingo, 22 de maio de 2022

Artigo: Quando colecionar também é uma arte: Acervo Isaura Amélia



 Márcio de Lima Dantas.

Prof. Literatura Portuguesa - UFRN.

 

1.

A arte de colecionar insere-se numa linha temporal desde que a arte foi reconhecida como contraponto à vida, como algo que se bifurca em dois grandes arranjos: o indigitado valor estético e as supostas razões emocionais, tanto para quem produz como para quem aprecia. Eis que surge o ato de colecionar obras de arte.

Ainda com relação à vida, há que reconhecer a importância da arte como lugar no qual repousa uma circunferência comportadora de tudo o que não nos satisfaz, todos os dissabores, todos os embates nos quais sucumbimos como derrotados, todos os naipes de luto, tudo o que punge, tudo o que imprime cicatrizes jamais curadas. Enfim, tudo o que tacitamente sabemos, mesmo que uma parte seja afeita a negar. Mas não é porque não assumimos as vicissitudes, a instabilidade, a sempre presente impermanência que anula o lacerar os contornos da alma.

Eis o motivo pelo qual a Arte assume esse papel, não quer dizer que assume função, faz saber da inconstância da Fortuna, senhora detentora de alternância, ora exaltando o álacre sorriso nos olhos, em um apogeu de lídima felicidade, ora sucumbido o ser, numa sorte que o abate rente ao chão.



2.

Em se tratando de colecionismo há que se falar de um dos maiores acervos particulares de obras de arte do Rio Grande do Norte, a saber, o Acervo de Isaura Amélia (1947), constituído por mais de duas mil peças, amealhado ao longo de vinte e cinco anos.

Para a proprietária, o seu gosto pelas coisas emanadas do espírito, presente  sempre esteve desde a mais tenra infância. Assim como uma espécie de potência buscando plasmar-se, querendo vir a ser uma forma, e essa vontade era a obra de Arte. Tanto é que suas lembranças mais remotas lança seus vetores para o que circunda o mundo da arte: visitar artistas, ateliês e exposições. Fortalecendo-se, enquanto fruidora e detentora de objetos de arte, uma alma que inquieta cerzia os hiatos havidos desde muito em lacunas posssibilitadoras de serem preenchidas pelo pathos da Arte.

De outra parte, o fato de ter sido Secretária de Cultura inúmeras vezes fortaleceu os laços com várias constelações de artistas, galerias de arte, organização de exposições. A fenda que ainda havia foi preenchida através da visita dos mais importantes museus do mundo, como o Louvre, o Hermitage ou o Prado, impondo-se uma pedagogia por meio do contemplar, ou seja, aprendendo a gramática da arte ao se ater diante das mais importantes obras feitas pelos mestres da arte.

Enfim, há que dizer que colecionar é uma atitude do Inconsciente, que parece significar uma proclamação do insatisfeito para com a vida e sua dinâmica, eivada de instabilidades, de uma sempre inconstância, na qual a fúria da vida estrutura-se em uma lógica  mais de retirar do que de dar. Qualquer ser mediano, tendo vivido o suficiente para riscar o corpo e a alma, sabe desse choque impetuoso das legiões da vida. Isso mesmo, faz gorar os planos inscritos nas miríades existenciais do futuro e uma frágua acesa na inquietude no presente.



3.

Hoje em dia, aquela que foi Secretária de Cultura durante décadas, não perdeu os laços com os distritos da Arte. Apoia os Amigos da Pinacoteca, tomando à frente do Salão Dorian Gray de Arte Potiguar, Salão Cores do Interior, criação da revista eletrônica Paleta. Tendo elaborado inúmeros catálogos e revistas.

De sorte que são poucos os eventos relacionados às artes no estado sem a inscrição do seu nome, sem o anonimato da sua presença, sem a busca persistente de recursos para efetivar um evento cultural. Há que outorgar a tiara da boa vontade, do desprendimento, da que faz por um unção interna, por uma ordem emanada de dentro, e queda-se no presente, por um misto de prazer e obediência às forças nem sempre entendidas do Inconsciente. A Senhora Isaura Amélia merece isso.



4.

Com efeito, parte desse acervo, cerca de mil obras, está sendo doado à UFERSA, em regime de comodato.  Vale lembrar que esse precioso acervo constituirá um Museu de Arte Mossoroense. Chantado será em um dos principais prédios da antiga ESAM. A cidade de Mossoró terá, talvez, a principal Pinacoteca do estado. Abrindo um lugar para não apenas a visitação de seu precioso acervo, mas também será um espaço para uma pedagogia da arte, tendo em vista um projeto inclusivo no qual haverá um exercício da arte enquanto forma lúdica: cursos sobre a arte, cursos voltados para crianças, visitas guiadas, enfim, o conjunto de obras como pretexto para o conhecimento da gramática da arte e seu papel no âmbito social.



5.

Vejamos como está classificado o acervo Isaura Amélia. Há que lembrar que sua organização é periodológica-cronológica. A saber, uma linha temporal no qual os estilos históricos estão contemplados e pontuam por meio de obras a duração do que ficou conhecido como estilo de época. Assim como se fosse a forma estética resultante do ser e do estar do Espírito da Época, quer dizer, a obra de arte organizando o Imaginário e tudo o que concerne de representações sociais acerca do modus vivendi de determinado período histórico.

Dito isso, vamos ao acervo Isaura Amélia, constituído por mais de duas mil peças. Citaremos inicialmente aqueles que são considerados os primeiros artistas visuais da nossa História da Arte: Raul Pedrosa (1892 – 1962) e Moura Rabelo (1895 – 1979).  A Pinacoteca do Estado detém inúmeras telas deste último, demonstrando que um dos nossos primeiros pintores era um virtuose nas artes visuais. Destacamos um retrato de Augusto Severo e seu assistente, ambos haveriam de morrer no trágico acidente do dirigível Pax, em Paris. No que concerne ao Acervo Isaura Amélia, temos dois retratos feitos pelo artista: o de seu pai e outro retratando seu filho.                                                                                                                                                                                                      a) Em segundo, temos os artistas visuais de Mossoró, sendo um dos mais importantes arranjos, visto cobrir um vergado arco que cobre desde Marieta Lima e sua pintura com amplo domínio da geometria aprendida no Colégio das Freiras, dominando seus inúmeros arranjos de flores, tipos populares e um competente  domínio de retratos de pessoas. Seguem seus parentes Ivan e Ivanilde, competentes tanto no retratismo quanto nos desenhos de paisagens. Temos então os que fizeram nomes no universo da arte: Varela, Boulier, Vicente Vitoriano, Ângela Almeida, Nôra Aires, Careca, Tulio Ratto, Marcelo Morais, Marcelo Amarelo, Rayron Montielly, Clarissa Torres, além de inúmeros artistas visuais não tão reconhecidos, como o escultor Escravo, por exemplo. 

b) Moderno. A arte moderna no Rio Grande do Norte inscreve-se em uma tradição que tem o II Salão de Arte Moderna (1949) como um dos seus principais eventos, tendo Newton Navarro e Dorian Gray como principais artífices. O Acervo Isaura Amélia conseguiu colecionar trabalhos de legítima qualidade de ambos, esses que despontam como os dois principais artistas visuais de nosso estado. Há exemplos de todas as fases de Dorian Gray. Temos assim o casario, as marinas, as cenas de cultura popular, os vasos nas janelas, a pesca.

c) Presença norte-rio-grandense. O acervo possui telas de nossos principais pintores: Assis Marinho, Diniz Grilo, Carlos Sérgio Borges, Ery Medeiros, Fabiano, Fernando Gurgel, Falves Silva, Jordão, Leopoldo Nelson, João Natal, Marcelus Bob, Rossine Perez, Abraham Palatinik, Ana Antunes, Flávio Freitas, Rute Aklander, Ricardo Veriano.



d) Presença Estrangeira. Seria uma grande lacuna se alguns artistas não se fizessem presentes, visto terem se inscrito não apenas como os primeiros retratistas das paisagens do Brasil, por que não dizer da América. Evoco a primeira exposição de Frans Post em Paris, um grande sucesso de público, pois todos queriam ver como “era a América e sua paisagem”, “como figurava o Brasil”, sua vegetação, seus animais, seus opulentos céus, cobrindo dois terços da tela. Temos Debret, Rugendas, Rachele del Nevo (Itália), Alfredo Sacco (Veneza), Salvador Dali (Espanha).

e) Arte popular. A arte popular é definida como um amplexo que circunda uma série de conceitos capazes de conter uma grande variedade de estilos e artistas, desde os mais ingênuos tais como Maria do Santíssimo, que pintava com anilina e palitos de côco, até um pintor de extrema elaboração como um Fé Córdula. Percebe-se a dificuldade de deter uma só categoria para classificá-la e outorgar uma variedade de substantivos capazes de nominá-la. Talvez o melhor seja mesmo Arte Popular. Temos no Acervo: Aécio Emerenciano, Arruda Salles, Aldo Rodrigues, Dimas Ferreira, Edilson Araújo, Enoch Domingos, Fé Córdula, Iran, Jordão, Mocó.

f) Presença do artista fora do seu âmbito de principal atividade

Nessa última categorização arrolamos um conjunto de trabalhos que não dizem respeito ao que alguns artistas se fizeram conhecidos, como, por exemplo, o fato de Cecília Meireles ter sido a nossa maior poeta mulher, malgrado isso, também foi uma hábil desenhista, sempre vinculando seus trabalhos ao que discorria acerca de determinado tema que seria uma série.



Temos uma plêiade de artistas visuais de grande qualidade estética, como as sombrias crianças de Jãnio Quadros, as clara paisagens de Chico Anysio, os esguios e singulares desenhos de Carybé, que ao retratar personagens do Nordeste, elevo-os à categoria do universal, igual Aldemir Martins, com seus gatos coloridos, elevando-os a uma variação sobre o mesmo tema. Ainda tem mais, só para fazer citar: Carlos Lacerda,  Chico Aynisio, Ariano Suassuna, Francisco Cuoco, Gilberte Freire, Gilvan Bezerril, Helmut (carteiro de Câmara cascudo), Heitor dos Prazeres, Menotti Del Piccia, Nair de Tefé, D. Carlos.






quarta-feira, 18 de maio de 2022

Especial: Luzia Dantas: permanência do Barroco na escultura popular


Por Márcio de Lima Dantas.

Professor de Literatura Portuguesa da UFRN.



A escultora norte-rio-grandense Luzia Dantas (Luzia de Araújo Dantas) nasceu no Sítio Riacho, distrito de São Vicente (RN), em 28 de fevereiro de 1937, vindo a falecer em doze de fevereiro de 2022. As obras analisadas neste estudo integram a coleção particular do Sr. Nildo.

Luzia é detentora de um estilo extremamente singular, pautado sob o signo de uma dicção que em nada se assemelha a outros escultores advindos de uma tradição cuja raíze são o fato de eles serem autodidatas,  - refratando quase sempre uma linha de continuidade -, como sucede acontecer na chamada arte de tradição clássica, na qual estilos históricos alternam-se em uma linha temporal. Com efeito, nos artistas indigitados como ingênuos ou naïfs, pelo fato de quase sempre realizarem seus trabalhos com um ethos autodidata, o conjunto da obra acaba por se revestir de um caráter único e, via de regra, detentor de uma opulenta originalidade. Em assim sendo, esses artistas logram êxito em desenvolver uma caligrafia pessoal e original no nível expressional dos seus trabalhos.

Ora, o Barroco não surge no contexto da Contrarreforma? Assim, sua Ideologia congrega todo um conjunto de pensamentos buscando demonstrar o poderio da Igreja Católica e seu cabedal de verdades e dogmas -, sendo este ritualizado de maneira obsessional no rito da Liturgia como sagração de uma história que remontava 1500 anos. 

Luzia Dantas insere-se nessa tradição; contudo, caracteriza-se por filiar-se a uma tradição advinda da arte clássica, a saber, o Barroco, que no caso do Brasil, é um estilo que opera seu número não somente nas nossas artes visuais, mas também vigora desde sempre na Literatura, na Pintura ou mesmo em artistas como Carmen Miranda.. 

Mesmo detendo uma fatura não passada por formação escolar ou influenciada por alguém da família, o Barroco imprimiu tento e tino na santeria de Luzia Dantas. Provavelmente teria vindo por meio de antigos santos das igrejas do Seridó, santos de oratório ou mesmo de estamparia em revistas. O certo é que ocorreu na escultora uma forte identificação dessa arte caracterizada por tudo o que excede, pelo exagero, pelo apelo à subjetividade.

Nesse sentido é que se inscreve a obra de Luzia Dantas, caracterizada por um panejamento em dobras, dando a entender que a imagem é maior do que se imagina. Os talhes na madeira de Umburana também demostram o quão dúctil esta pode vir a ser, em uma maleabilidade que torna o conjunto escultórico eivado de uma leveza, evocando o etéreo de uma escultura religiosa de tradição Barroca.

As esculturas de madeira mostram certa leveza no seu conjunto, embora o semblante quase sempre registre um hieratismo nas faces cheias, plenas de silêncios. Os olhos detém uma espécie de absoluta indiferença com relação a um possível entorno do que é conhecido como real empírico. Há uma estaticidade das personagens esculpidas na madeira, evocando as estátuas da tradição egípcia, como se a escultora havera querido imprimir um caráter eterno nas suas esculturas, ou melhor, como se o divino contido, atributo dos santos e santas retratados, resguardasse uma demanda de adoração ou homenagem por parte do expectador. Luzia Dantas soube escavar a madeira com propriedade, impregnando suas imagens consoante o demandado pela Igreja Católica nos sistemas de exteriorizar o culto dos ícones evocadores de uma sempre reverência, tendo em vista a necessidade de ritualizar a fé como uma dos principais dogmas.

 

Sua obra mostra certa leveza no conjunto escultórico, embora o semblante quase sempre registre um hieratismo, com rostos cheios, porém com os olhos de absoluta indiferença para o entorno da realidade que os cerca, afinal os dogmas da Igreja Católica os colocam em lugares de adoração e louvor, em uma atitude de buscar o pedagógico, servindo de  exemplo aos praticantes de determinada fé. Bom evocar seu principal motivo esculpido: as imagens de Santana, que se bifurcam em duas direções, quais sejam: Santana em pé e Santana sentada, ambas com Nossa Senhora menina, sempre com um livro nas mãos, simbolizando uma pedagogia de uma completude cuja aura conteria as tantas virtudes daquela que viria a ser mãe de Jesus.

Eis que atestamos o fastígio do Barroco na arte escultórica de Luzia Dantas. O tratamento dos dois temas acima aludidos reafirma a assinatura desse Estilo Histórico, tendo em vista que a linha curva é desenhada em inúmeras variações, em uma busca que excede uma possível retratação realista. Haja vista o tratamento manifestado nos resplendores e nas coroas, e mais ainda  no cume das cadeiras nas quais Santana encontra-se sentada, cujo efeito decorativo faz saber das formas em S, tanto para a esquerda quanto para a direita.  Ora, o Barroco é o lugar por excelência da evocação a tudo o que concerne à subjetividade, sendo a primazia das variações em torno da linha curva, criando um semblante decorativo por meio de toda uma série de volutas


Não há qualquer dúvida de que Luzia Dantas é a nossa melhor santeira, detendo uma história de vida pautada por uma imanente força que a impulsionou a elaborar um conjunto de obras conhecidas pelo esmero e pela  homogeneidade nos seus traços evocadores da nossa tradição Barroca. Há de se declarar, em certo sentido, a originalidade de seu trabalho resultado de uma força advinda do Imaginário, plasmado no espírito dessa senhora de origem humilde, fazendo saber que a Arte, como queria Aristóteles, é o resultado de uma dynamis (potencialidade) buscando ser entelechia (atualidade). Alguém pode duvidar que Luzia Dantas e sua obra é resultado dessa boda Barroca?





Fotos: Márcio de Lima Dantas.



quarta-feira, 11 de maio de 2022

Aprovado na CCJ Projeto de Lei Autoria do Deputado Francisco do PT de Apoio a Entidades de Proteção de Animais.



Foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa, nesta terça-feira (3), o projeto de lei de autoria do deputado Francisco do PT que visa incluir entidades de proteção animal, entre as instituições que recebem recursos do programa Nota Potiguar, do Governo do Estado.

“Muitas dessas instituições funcionam na base de doações e do voluntariado das pessoas que amam essa causa e, por isso, é preciso buscarmos formas de poder contribuir com esse tipo de trabalho tão importante. O próprio Governo já mostrou interesse nessa matéria, que na verdade é fruto da demanda das próprias instituições”, disse Francisco do PT.

Fonte: Oeste em Pauta.


“Dia histórico, de muita emoção e esperança”, diz Francisco do PT ao participar do lançamento da pré-candidatura de Lula a presidente


 

O deputado estadual Francisco do PT esteve em São Paulo, onde participou neste sábado (07) do ato de lançamento da pré-candidatura de Lula a presidente de Brasil. 

“Hoje foi um dia que ficará eternizado nos nossos corações e mentes. É o início da jornada que levará, se Deus e o povo quiserem, à vitória de Lula. O Brasil vai voltar a sorrir”, ressaltou o parlamentar.

Francisco do PT destacou que o momento é de união, de somar esforços com todos que desejam o fim do atual governo federal. 

Parlamentar integrou a comitiva Potiguar liderada pela governadora Fátima Bezerra.

Fonte: Mandato Deputado Francisco do PT. 

terça-feira, 10 de maio de 2022

Artigo: A persistência das formas góticas na arquitetura religiosa do sertão do Rio Grande do Norte.

Por Márcio de Lima Dantas

Professor de Literatura Portuguesa do Departamento de Letras da UFRN


1. Introdução


Quem viaja pelas terras quentes do interior, a oeste do Estado do Rio Grande do Norte, ao se aproximar de algumas de suas tantas pequenas cidades que pontuam as autoestradas, consegue divisar, mesmo de longe, as torres longilíneas das Igrejas Católicas. Via de regra situadas no centro da cidade, é o espaço para onde convergem todas as ruas. Erguem-se para o céu, em suas cores um pouco acentuadas, destacando-se do monótono conjunto de casas, na sua maioria de um só pavimento retangular, o rez-do-chão, achatadas e de nuances ocres ou cinzenta. Esses templos seguem uma feição que podem ser considerados como caudatários do estilo Gótico, florescido na Europa entre os séculos XII e XVI.

A tendência para a verticalidade é constatada em tudo que diz respeito às práticas com o sagrado. Se aparece de maneira ostensiva na arquitetura das igrejas, não deixa, também, de despontar nas capelas, nos portais de cemitérios, nos túmulos antigos de cemitério de cidades, mesmo em pequenas capelinhas à beira de estradas.

A fixação desse padrão estético na feitura de construções vinculadas ao sagrado, querseja do culto católico ou de igrejas protestantes, sugere uma série de especulações relacionadas aos motivos pelos quais toda uma região levou a aceitá-los como o principal paradigma dos lugares sagrados, ou seja, como a forma que deve ter a casa de Deus ou construções relacionadas ao sagrado. O que quero dizer é que parece existir um elemento de permanência integrante da psicologia do lugar, tanto é que podemos constatar uma expectativa, digamos, “natural” com relação às construções vinculadas ao sagrado. Não sendo necessário maior esforço mental que leve alguém a reconhecer a forma constituída com os paradigmas advindos do gótico como mais adequada para representar a morada divina na terra ou o lugar de descanso do mortos.

De fato, quando alguém se dirige para contemplar uma igreja Católica, já leva em seus esquemas mentais uma figura. Não é de causar admiração o estranhamento despertado pelas igrejas quando construídas em estilo moderno. A imagem mergulha no espírito, porém não encontra o lugar onde se amoldar para que o olhar do indivíduo sinta-se confortável, prosseguindo seu passeio no cenário do mundo. A expectativa, sentimento ordinário, aquieta-se ancha, pois parece ter encontrado o que lhe apetecia. 

Enfim, o fulcro do nosso ensaio pode ser resumido na seguinte questão: Por que a persistência de formas advindas do neogótico se destacou como escolha para a construção dos templos de religiões várias dentre tantos estilos arquitetônicos oferecidos pela história da arte no ocidente? Em síntese, tentarei buscar as razões pelas quais as construções vinculadas ao sagrado assumiram determinada figuração, expressando a sensibilidade de um povo.


Com efeito, o humano compõe o cenário para transitar nas suas diversas partes tendo em vista seu conjunto de representações, consoante suas crenças ou o que melhor lhe convier. Sobretudo na organização da paisagem é onde melhor se expressa a dinâmica da vida, quandoidéias e formas se materializam, passando a integrar com “naturalidade”, o que é inconscientemente produzido por razões advindas da psicologia mais profunda de uma coletividade.


O que quero dizer é que há um movimento de objetivação da arte em formas determinadas por forças advindas do coletivo, como imanente necessidade de se constituir consoante determinada maneira. A forma é uma espécie de texto que o social engendra inconscientemente. Enfim, há como que um aguardo, uma expectativa de formas querendo fazer seu jugo estético e utilitário para cada uso em sociedade. Um armazém de cereais submete ao funcional sua arquitetura, sem abandonar os adereços da parte estética.  

A questão pode ser equacionada, reitero, de maneira relativamente simples: que espécie de forma abriga com maior propriedade a presença ou os lugares nos quais se cultua um determinado tipo de deus?


2. Das coisas concretas e das coisas abstratas

Do concreto

Consabido é que o Gótico embora tenha surgido a partir de condições históricas determinadas, acabou por tomar compleição distinta em cada país. Diferente da Alemanha, no qual predomina uma torre central pontiaguda, na França é recorrrente as duas torres ornadas por uma rosácea central. Nossas igrejas puxaram mais ao estilo alemão, cuja torre sineira ergue-se do lado ou na frente, numa simetria bilateral ou formando um triângulo retângulo. O arco orgival permanece como elemento invariante, aparecendo em sua forma tradicional ou imitações mais sutis ou estilizadas. Nas igrejas no qual o estilo neogótico desponta com maior veemência, os vitrais esplendem sua beleza filtrando a luz intensa de terras no qual o sol é uma presença constante. Em cores primárias ou nuances de outras cores, ressaltam a simbólica recorrente da Igreja Católica, narrando seus personagens principais e contanto a trajetória do seu mito fundante, Jesus Cristo, bem como seus seguidores primevos e mártires.

Para além de uma tendência arquitetônica predominante em um dado momento da nossa história, o que deixaria seus resíduos,pensamos que só isso não dá conta do fenômeno, visto que um conhecimento do comportamento e das representações mentais dessas populações nos permitem algumas conjecturas de como a vida material e o conjunto de objetos existentes permitem entrever o funcionamento de simbolismos permanentes na vida e na história, quer seja no campo do sagrado, quer digam respeito ao profano. E se algumas construções foram deliberadamente conscientes, de propósito, não podemos esquecer que também há todo um lastro simbólico bastante sólido permitidor de andarmos sobre uma a constelação de símbolos, constatando e inquirindo de um possível sistema configurador da psicologia ou gênio dessas terras sertão a dentro, e que por meio de invariantes formularam arranjos imagéticos com notável semelhança numa região com a qual não é difícil constatar a recorrência  de imagens e costumes, e que se dobra num extenso arco que vai do vocabulário às construções religiosas ou civis.

De toda maneira, não podemos negar a existência de um paradigma presente de maneira ostensiva em todas as construções religiosas católicas do sertão, opção de adotar justamente as formas arquitetônicas dominadas pela verticalidade e por linhas que buscam o alto. Prova do que estou dizendo é que em um outro espaço vinculado ao sagrado, os cemitérios, é possível encontrar esse mesmos elementos, pois o formato de alguns túmulos mais antigos ou os portais, detém essas linhas gerais de verticalização ou um sutil pendor para o alto. Não há como deixar desapercebido que tudo o que se relaciona às coisas do sagrado, nessa região, cenotáfios, cruzeiros, capelinhas à beira da estrada (evocadoras de que ali morreu alguém) ou mesmo as grandes capelas rurais, pequenos centros de peregrinação ou monumentos votivos. Enfim, a mathésisdo sagrado encontra-se arrodeada dos mesmo símbolos, organizando-se em múltiplos arranjos, consoante propostas trazidas de longe ou pequenas soluções de mestres artífices locais.

Nossas conjeturasbifurcam-se em duas direções. A primeira diz respeito a fatores históricos e/ou referentes às condições materiais, chamaremos aqui de concretos. A segunda diz respeito a coisas mais genéricas, teóricase impalpáveis, relacionadas ao mundo das idéias e das formas, por isso levarão aqui o nome de abstratos. Separadas didaticamente, é claro, pois formam um só amálgama.

Num primeiro momento, ensaiaremos buscar na história e nas tradições da região alguma luz que porventura explique o fato de haver essa adoção generalizada de pastiches neogóticos ou a esses assemelhados, ou melhor, de como foi sedimentando-se essa disposição para formatar uma idéia que, mesmo apresentando modulações, acaba por reter elementos com notável semelhança.

Como estava dizendo, o estilo neogótico floresceu em todo o sertão, passando a fazer parte mesmo da expectativa de um eventual forasteiro que chega numa cidade. A pessoa de fora que chega num lugar, pela primeira vez, já detém no seu imo a expectativa. O que quero dizer é de uma espécie de esquema mental já impregnado a compreender a forma de uma igreja como um tipo de edifício que contém uma ou duas torres longilíneas na sua fachada. Tanto é que quando a igreja é construída com outra arquitetura, logo se diz que “não tem jeito de igreja”. Mesmo as pequenas capelas localizadas nas comunidades rurais seguem esse padrão de construção, 

Um dos elementos que podemos evocar como integrantes desse cabedal referente à história do lugar é o estilo dos oratórios, que até pouco tempo atrás eram muito populares nas casas, cheios dos “santos da família”, e que passavam de geração a geração. Inicialmente importados de Portugal e de Espanha, depois passaram a ser fabricados por santeiros, embora tenha florescido nos trópicos toda uma estatuária com formas e cores próprias. As semelhanças formais são flagrantes, não há como não estabelecer um vínculo, pois é possível se detectar vários motivos comuns. Os oratórios, assim como os trípticos para viagens, eram como se fossem pequenas igrejas em miniatura, invariavelmente suas linhas básicas estavam subordinadas a um pendor para a verticalização.

Quem sabe esteja ligado ao espírito muito apegado às coisas divinas em regiões submetidas a periódicas secas. Não seria repetitivo dizer que as três grandes religiões monoteístas – Islamismo, Judaísmo e Cristianismo – surgiram justo em lugares cujo meio físico eram hostis? O embate com as foçar naturais parece estreitar os laços entre o homem e o sagrado, conduzindo-o à uma concepção fatalista de mundo. Há quem diga que as populações sertanejas têm um pendor para considerar a noção de destino como algo integrante da sua mentalidade. Idéia que se expressa muito bem nos inumeráveis provérbios populares que organizam e disseminam o fatalismo e a resignação diante das forças trágicas da vida.

YUNG chama a atenção para esse aspecto apontando a existência de uma função religiosa no inconsciente:


Tais representações só podem basear-se na existência de certas condições psíquicas inconscientes, pois do contrário seria impossível compreender como é que sempre eem toda parte surgem tais representações fundamentais.

(YUNG, 1978: p 98)

Destarte, o psicanalista chama a atenção para invariantes antropológicas que habitam nosso inconsciente, levando-o este a conceber as mesmas ideias ou formas assemelhadas, pelo menos, em diversos lugares com culturas tão díspares no tempo e no espaço. Mesmo culturas e etnias que não tiveram o menor contado físico, apresentam edificações bastante semelhantes, sobretudo no que diz respeito às coisas do sagrado.

Embora variando em suas formas, não podemos negar o fato de haver um núcleo comum que as une e justifica nossa especulação. É o que nos permite afirmar da persistência das formas gótica na arquitetura religiosa do sertão a dentro.

Não nos esqueçamos que o Nordeste é a região mais antiga do Brasil, tendo resguardado diversos costumes que remetem à Idade Média tardia da Península Ibérica. Tais aspectos, hoje arcaicos, vai do vocabulário, ao hábito dos marranos aqui chegados de costurar as mortalhas de uma determinada maneira, passando pelos romanceiros, aboios, literatura de cordel e feitura de objetos domésticos. Até pouco tempo atrás havia o costume de realizar pomposas procissões em dias sagrados, quando as pessoas colocavam toalhas nas janelas com vasos de flores, herança de Portugal.

b. do abstrato: o mito ascensional

Sem dúvida que há significados mais profundos no fato das construções vinculadas aos rituais das religiões ou relativos às pompas fúnebres. De agora em diante procuraremos demonstrar, não mais a partir de pistas materiais, mas tendo em vista, digamos, coisas mais abstratas e menos tangíveis. É do conjunto de imagens que persistem na mente dessas populações do sertão que falamos. Ou seja, do conjunto de imagens e representações que constelam a mentalidade dos habitantes das terras do interior a dentro, povoadas que foram a partir do século XVIII,com as fazendas de gado e os aldeamentos de índios organizados pelos jesuítas.

Ora, é mais do que sabido que o lastro de disposições concernentes à nossa visualidade, - estruturas que herdamos no processo de socialização -, é a expressão de todo um conjunto de significados mais chantados em regiões abissais da mente e que ocorre uma “uma involuntária pulsão”. Nossas áreas mentais encontram-se povoadas de significantes que flutuam em busca de tombar sobre um significado que a vista encontra, gerando algo material, uma obra de arte, por exemplo. Se alguns indivíduos detém uma predisposição, através de uma necessidade que o impulsiona a criar, plasmando objetos de arte, outros se comprazem em fruir tais criações nos rituais em que mitos são consagrados por meio de pompas e circunstâncias,fazendo-os vibrar nas mentes e corações.

Com efeito, o mito ascensional, quando aludimos às práticas religiosas, é o que desponta com maior força. Parece haver um lugar mental onde repousa o substrato desse mito de elevar para o alto os elementos das construções. É fácil constatar a verticalidade das torres sineiras, das janelas com seus arcos ogivais, das agulhas que se lançam para o alto, como querendo alcançar a abóbada celeste. Essa fisionomia verticalizante desde muito foi sedimentada na psiqué como a imagem ideal ou mais eficaz de relacionar-se com atitudes vinculadas ao sagrado.

A aceitação incondicional e “natural” dessa iconografia relacionada ao vertical ostensivamente comprova de maneira notável o que até aqui discorremos: o campo do sagrado busca elevar para o alto seus elementos de fatura. Cotejando o que referimos com processos químicos, diríamos que são “precipitados”: resíduos sólidos que se acumulam no seio de um meio líquido. E que, ao acumular-se, formam um substrato de significantesalmejando compor um signo que tomba numa mente aberta para eventuais sentidos, e que vão passando de geração a geração de maneira desintencional.

Podemos nomear,- como quer o estudioso Gilbert Durand, no seu livro As estruturas antropológicas do imaginário, volumoso tomo no qual mapeia o funcionamento da psiqué humana -, de “invariantes antropológicas do imaginário”. Em suma, o autor busca mapear o que existe de invariante e universal nos fenômenos da cultura, ou seja, tanto o processso de produção quanto o de recepção detém universais que proclamam fenômenos que emergem com espontaneidade e do qual não temos consciência.

 A arte, por excelência, por ser desinteressada, por intrínsicamente relacionar-se à dimensão do espírito, conforma-se como a comarca de onde emergem as invariantes antropológicas, fazendo valer sua eficácia quando manuseada ou contemplada, sobretudo por populações ainda um tanto distantes de uma crítica do valor e eficiência de práticas sociais tidas como verdades, não questionando se se trata de puro e simplesmente de um ritual demandado por um mito que tem sua origem, seus paradigmas, seus lugares mentais, nos primórdios da civilização ocidental.

4. CONCLUSÕES

Citando Schelling, no ensaioA terra e os devaneios da vontade (1991: p.288), BACHELARD, faz saber que “Apenas a direção vertical tem um significado ativo, espiritual; a largura é puramente passiva, material. O significado do corpo humano reside antes em sua altura do que em sua largura”.Essa assertiva está estreitamente ligada aos paradigmas arquiteturais e aos motivos ornamentais das edificações vinculadas ao sagrado.  Mesmo sendo contemporâneos de uma dessacralização concernente às coisas divinas, à religião, aos ritos ou ao culto, ainda perdura o elemento espiritual vinculado ao ativo, haja vista as construções da arquitetura moderna e contemporânea. Lembremos aqui da Catedral de Na. Sra. Aparecida, de Brasília, com estilizações de mãos que se lançam para o alto ou, bem mais perto de nós, a Catedral de Na. Sra. da Apresentação, em Natal, com sua enorme rampa buscando o alto. Vale lembrar que as igrejas de culto protestante também seguem os mesmos padrões, só que de maneira mais discreta.

Há que lembrar as formas clássicas e neo-clássicas dos templos da antiguidade greco-latina, servidora de uma religião politeísta não tão rígida em suas práticas, já que não havia rigorosa distinção entre o sagrado e o profano, como sucede com as religiões monoteístas. Não é à toa que o estilo neoclássico e seus paradigmas estéticos aclimataram-se com propriedade e beleza na arquitetura civil, estando intrinsicamente vinculada ao poder termporal.

Em suma, o que podemos chamar de ânsia de verticalidade materializou-se de forma ostensiva no campo do sagrado, permitindo entrever os mesmos elementos, mesmo que se encontrem arranjados de maneira diferente, consoante razões próprias a cada comunidade. 

A mente quando se encontra face às coisas relacionadas ao sagrado, aquieta-se com naturalidade, quando encontra objetos representantes desse campo simbólico, como se houvessem “encaixes” para determinadas formas que a realidade apresenta e deseja ser enquadrada. 


É o que sucede, como já fizemos questão de ressaltar, quando vamos aos lugares relacionados às coisas do sagrado, tais como cemitérios, capelas, igrejas, capelinhas à beira de estradas, cenotáfios, cruzeiros,  é possível constatar os motivos ornamentais os quais aludimos aqui o tempo inteiro, confirmando que essa variada e criativa rede de associações simbólicas orbitam em torno do mesmo paradigma simbólico, ou seja, da mesma estrutura invariante – o pendor para o vertical - relacionadora do mundo do além com as linhas verticais ou espigadas.A forma já indica a espécie de crença que se encontra implícita: Deus está em acima, sendo necessário ascender para encontrá-lo.

5.  BIBLIOGRAFIA

BACHELARD, Gaston. A água e os sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria. Trad. Antonio de P. Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1977. 

____________.A terra e os devaneios da vontade. Trad. Paulo Neves da Silva. São Paulo: Martins Fontes, 1991

BARTHES, Roland. Mitologias. 10 ed. Tradução Rita Buongermino e Pedro de Souza. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.

BÍBLIA SAGRADA. 10 ed., trad. Pe. Matos Soares, São Paulo : Edições Paulinas, 1981.

CHEVALIER, Jean & GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos. 7 ed., trad. De Carlos Sussekind et alii. Rio de Janeiro: José Olympio, 1993.

CHICO. Mário T. A arquitetura gótica em Portugal.3 ed. Lisboa: Livros Horizonte, 1981.

DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário. Trad. Hélder Godinho, São Paulo: Martins Fontes, 

________. Campos do Imaginário. Trad. Maria João B. Reis. Lisboa: Instituto Piaget, 1998..

________. A imaginação simbólica. Trad. Carlos Aboim de Brito. Lisboa: Edições 70, 2000. 

FERRARA, Lucrécia D’Aléssio Ferrara. Leitura sem palavras. São Paulo: Ática, 1986.

KOCH, Wilfried. Dicionário dos estilos arquitetônicos.Trad. Neide Luzia de Rezende. São Paulo: Martins Fontes, 2004

MEDEIROS, Tarcísio. Aspectos geopolíticos e antropológicos do Rio Grande do Norte. Natal: Imprensa Universitária, 1973.

YUNG, Carl Gustav. Psicologia e religião. Trad. Pe. Dom Mateus R. Rocha. Petrópolis: Vozes, 1978


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