Casa do coronel João Dantas vira ruína
Matéria Publicada no Jornal de Fato
21/10/2007
JOTTA PAIVA
De Patu
Foto: Aluísio Dutra de Oliveira
Patu - Uma parte da história de Patu se encontra em ruína. Trata-se da casa que foi de propriedade do coronel João Dantas de Oliveira, localizada no Sítio Patu de Fora, zona rural do município. O coronel João Dantas faz parte da história de Patu por seu envolvimento com cangaceiro Jesuíno Brilhante. A casa do coronel é vista como tenebrosa e mal-assombrada.
Segundo relatos contidos nos livros “O Cangaceiro Romântico”, do escritor Raimundo Nonato, e “História do Município de Patu”, do historiador patuense Petronilo Hemetério Filho, o coronel João Dantas de Oliveira foi destaque na história de Patu, principalmente no seu envolvimento com o cangaceiro Jesuíno Brilhante, quando ele se aliou ao facínora a fim de que houvesse condições de atacar a cadeia de Pombal, objetivando libertar o irmão e o pai que ali se encontravam prisioneiros.
O chefe de Polícia do Estado da Paraíba, Major Antônio Aranha Chacon, no inquérito que fez contra os responsáveis pelo assalto à cadeia da cidade de Pombal (PB), em seu relatório ao Governo da Paraíba, acusou dois oficiais da polícia do destacamento local como coniventes com o atentado, por terem facilitado o acesso de Jesuíno Brilhante àquele presídio, onde fez o que quis, soltando inclusive os presos.
A Vinda do Coronel João Dantas Para Patu
Diz o inquérito que o coronel João Dantas de Oliveira foi responsável pelo êxito do atentando porque sabia de tudo e ao invés de preparar a resistência, relaxou o policiamento da cidade na noite do assalto. O chefe de Polícia continuou em seu relatório, dizendo ao Governo que havia prendido o alferes Eustáquio, mas não conseguira prender o coronel João Dantas, que se evadira para fora da província. Esse fato o teria feito a se ocultar no sítio Patu de Fora.
De acordo com o relato dos historiadores no município, o coronel João Dantas era perverso, sempre vivia rodeado de um grande séqüito de pessoas armadas e talvez criminosas. Segundo o major Chacon, o coronel João Dantas vivia protegido por amigos e políticos da época e sempre gostou de possuir preponderância política em todos os negócios da comarca. Segundo relata o livro História do Município de Patu, o coronel João Dantas, certamente, tornou-se amigo íntimo do cangaceiro Jesuíno Brilhante pela oportunidade que lhe proporcionou, facilitando o ataque à cadeia de Pombal, por Jesuíno Brilhante e seus cabras. Dizem até que o coronel João Dantas comprou a propriedade Patu de Fora por indicação do amigo do Tuiuiú, Jesuíno Brilhante.
O inquérito contra João Dantas não deu em nada, os bandidos ficaram impunes e, diante desse fato grave e impressionante, o professor Juvêncio da Costa Volpis Alba, denunciou o fato pelos jornais “O Publicador” e o “Diário de Pernambuco”. O referido professor chamava a atenção das autoridades da Província, as quais não deveriam se fazer esquecidas na apreciação da atitude comprometedora do comandante João Dantas da Oliveira daquele revoltante atentado.
Coronel se desentende com cangaceiro Jesuíno Brilhante
Casa do Cel. João Dantas. foto Livro História de Patu. Autor Petronilo Hemetério Filho.
Segundo os relatos, o coronel João Dantas era prepotente e não admitia oposição à sua pessoa. Seria grande temeridade acusar ou criticá-lo. O artigo do professor Juvêncio da Costa Volpis Alba teria ferido em cheio a sensibilidade do coronel. Ao ler o artigo denunciante do jornal ele teria ficado irritadíssimo com o fato e por esse motivo mandou chamar Jesuíno Brilhante, lhe propondo matar o professor. Jesuíno se negou a fazer o serviço porque certa vez o referido professor defendera seu pai como advogado.
Mas o coronel não desistiu de seu intento. Mandou seus dois filhos, Alpiniano e José, e mais um escravo para sacrificar a vida do professor. O trio foi até a casa do professor Juvêncio. Ele estava deitado lendo, quando Alpiniano pronuncia uma frase moralista: “Pombal precisa ser respeitado. Não é assim que se desmoraliza os homens.” Nisso, dispararam três tiros, deixando o professor sem condições de reagir.
O Governo do Estado da Paraíba mandou o chefe de Polícia Manoel Caldas Barreto ir até a cidade de Pombal capturar os criminosos e punir os responsáveis pela morte do benemérito professor Juvêncio, amigo e admirado do governador. Essa foi a causa principal da fuga do coronel João Dantas para o sítio Patu de Fora. Tudo conforme o escritor Raimundo Nonato narrava em seu livro “O Cangaceiro Romântico” e relatado no livro História do Município de Patu, do historiador Petronilo Hemetério Filho.
Alfredo Leite Possui Aliança Que Pertencia ao Coronel João Dantas
Alfredo Leite
O atual proprietário do sítio Patu de Fora, Alfredo Alves Leite, diz que a casa do coronel João Dantas encontra-se atualmente em ruína. Sempre que alguém visita o sítio Patu de Fora, Alfredo Leite fala com emoção das histórias do coronel e do cangaceiro Jesuíno Brilhante, repassadas de geração para geração. Segundo informações de Alfredo, relatadas no livro História do Município de Patu, que ouviu o seu avô contar a história da grande intimidade de Jesuíno Brilhante com o coronel João Dantas, dizendo que eles almoçavam juntos e às vezes passavam dias na casa do outro.
Certa vez, Jesuíno vinha com o coronel João Dantas, mas nesse dia houve um conflito de palavras, chegaram a se desentender e tiveram uma conversa reservada dentro de um quarto escuro da fortaleza do coronel, não sendo revelado o teor da discussão entre os dois. A mesma fonte informou que quando Jesuíno saiu, foi emboscado na cajazeira da beira da estrada, pouco mais de um quilômetro de distância. Desse dia em diante, de bons amigos passaram a ser inimigos, um procurando eliminar o outro.
Após a sua morte, a velha casa tornou-se mal-assombrada, e ninguém conseguiu morar lá. Conta-se que era pavoroso permanecer no recinto por algum tempo, pois saía atemorizado com tanta coisa esquisita que acontecia ou caía nas suas dependências. Recentemente, o professor Aluísio Dutra de Oliveira, quando foi produzir as fotos nas ruínas da casa do coronel João Dantas, disse ter sentido arrepios, tristeza e algo estranho no ar.
Alfredo Alves Leite, proprietário do sítio Patu de Fora, pede às autoridades para que façam a reconstrução da casa do coronel João Dantas, para que uma parte da história de Patu não seja destruída.
Fonte: Jornal de Fato. Aluísio Dutra. História de Patu, Petronilo Hemetério Filho.