Artigo de autoria de Márcio de Lima Dantas.
Professor de Literatura Portuguesa da UFRN.
Juliano Lauro da Escóssia Nogueira nasceu em Mossoró (RN),em 1940, vindo a falecer em Fortaleza (CE), em 2014. Formado em Economia pela Universidade de Brasília, cidade onde foi residir em 1967, tendo se tornado servidor de carreira do Senado Federal.
Detentor de uma grande coleção de imagens de São Francisco de Assis, cerca de quase quatrocentos ítens, pois não se limitava às esculturas, mas também tudo o que dissesse respeito a retratação do santo, fossem telas ou outros artefatos. Essa saudável obsessão do ato de colecionar, praticamente extinta em nossos dias, tendo em vista que a deusa Mnemósine a pouco e pouco perde legiões de adeptos em nome de se levar em conta o instante ancorado no presente, - como se fosse passar a página de um livro, seu usofruto e imediato esquecimento, - teve em Juliano um dos seus últimos e fervorosos adeptos.
Antes de falecer, fez questão que a coleção ficasse com a sobrinha, a Sra. Sandra Rosado, hoje encontra-se na sua residência. Opulento acervo que enriquece o mundo das artes na cidade de Mossoró.
A coleção teria sido iniciada quando sua esposa, Sra. Otília, o presenteou com uma imagem de São Francisco feita de argila por um artesão gaúcho. Oriundo de uma tradição familiar católica, não seguiu. Somente após uma certa idade retornou a praticar a religião dos seus ancestrais, o Catolicismo, tendo feito a caminhada de Santiago de Compostela. Quer dizer que não era devoto do santo, costumava dizer que o interesse se encontrava na atração e no aspecto plástico de como estava formatado o ícone-primevo de onde partiu toda a coleção. Em síntese, buscava a dimensão estética, não a religiosidade com seus dogmas de fé e devoção. Com o tempo, esse pensamento transmutou-se.
A coleção detém um caráter metalinguístico bastante evidente, sendo monotemática. Ou seja, as inúmeras possibilidades que um conteúdo base (ícone de São Francisco) pode variar numa multiplicidade de suportes (materiais). Uma espécie de variação sobre o mesmo tema. Nesse sentido, a arte fala da arte, debruçando-se sobre o Como se diz, não o Que se diz.
Para o linguísta Roman Jakobson (Linguística e comunicação), sempre que a linguagem fala da própria linguagem temos a função metalinguística. Ou seja, sempre que o discurso focaliza no código, constata-se a metalinguagem. Isso significa dizer que em sua grande maioria os enunciados fazem referência implícita ou explicitamente ao próprio código em questão. Trazendo para o que tratamos: a coleção de imagens de São Francisco de Assis de Juliano Escóssia é uma manifestação artística em quase todas as peças, uma forma do humano se expressar, uma linguagem, visto que o termo linguagem não se restringe apenas à língua, mas a tudo o que refere como cultura, aquilo construído pelo homem.
De outra parte, também é considerado como um código ou sistema semiótico ou sistema de signos, detendo eventual sentido ou uma multiplicidade de sentidos, metáforas ou simbologias, consoante tempo ou espaço onde foi engendrado, ou mesmo relativo a determinada cultura ou etnia.
Para além, do aspecto estético há uma série de coincidências ou sincronicidades entre Juliano Escóssia e datas referentes à vida de São Francisco de Assis. O aniversário dele cai no dia dedicado às Chagas de São Francisco. Ele não tinha consciência dessas informações ao iniciar a coleção. Também costumava passar o dia dezessete de setembro, em Canindé (CE), cidade famosa pela devoção do santo, cujos devotos em sua grande maioria são os pobres ou desfavorecidos socialmente.
Sabendo do interesse de Juliano Escóssia por São Francisco, os amigos viajavam e ofertavam itens de muitos lugares do mundo. A coleção detém peças que vão de um autêntico exemplar de arte Cuzqueña, passando por uma peça vinda do México, elaborada em conchas e búzios, o santo esculpido em um palito de fósforo, um Playmobil franciscano, até mesmo encomendou a um santeiro de Pirapora (MG) uma imagem de São Francisco da altura dele (1,69m), o maior da coleção, finalmente, chega à contemporaneidade com uma imagem no estilo Romero Brito.
Enfim, diria apenas do santo São Francisco de Assis: respeitado mais como homem detentor de um comportamento eivado de caráter, honestidade e autenticidade consigo próprio. Tanto é que abandonou uma vida de filho de gente abastada para peregrinar em busca de seus projetos espirituais. Prova disso é que pessoas praticantes de outras religiões o admiram e respeitam seu modo de vida.
Juliano Escóssia faleceu no dia quatro de outubro, exatamente um mês antes do dia de São Francisco de Assis. Paz e bem.
São Francisco de Assis
Giovanni di Pietro di Bernardone, mais conhecido como São Francisco de Assis (Assis, 1181 ou 1182 — 3 de outubro de 1226), foi um frade católico nascido na atual Itália. Depois de uma juventude irrequieta e mundana, voltou-se para uma vida religiosa de completa pobreza, fundando a ordem mendicante dos Frades Menores, mais conhecidos como Franciscanos, que renovaram o Catolicismo de seu tempo. Com o hábito da pregação itinerante, quando os religiosos de seu tempo costumavam fixar-se em mosteiros, e com sua crença de que o Evangelho devia ser seguido à risca, imitando-se a vida de Cristo, desenvolveu uma profunda identificação com os problemas de seus semelhantes e com a humanidade do próprio Cristo. Sua atitude foi original também quando afirmou a bondade e a maravilha da Criação num tempo em que o mundo era visto como essencialmente mau, quando se dedicou aos mais pobres dos pobres, e quando amou todas as criaturas chamando-as de irmãos. Alguns estudiosos afirmam que sua visão positiva da natureza e do homem, que impregnou a imaginação de toda a sociedade de sua época, foi uma das forças primeiras que levaram à formação da filosofia da Renascença.[2]
Dante Alighieri disse que ele foi uma "luz que brilhou sobre o mundo", e para muitos ele foi a maior figura do Cristianismo desde Jesus, mas a despeito do enorme prestígio de que ele desfruta até os dias de hoje nos círculos cristãos, que fez sua vida e mensagem serem envoltas em copiosa fé e darem origem a inumeráveis representações na arte, a pesquisa acadêmica moderna sugere que ainda há muito por elucidar quanto aos aspectos políticos de sua atuação, e que devem ser mais exploradas as conexões desses aspectos com o seu misticismo pessoal. Sua vida é reconstituída a partir de biografias escritas pouco após sua morte mas, segundo alguns estudiosos, essas fontes primitivas ainda estão à espera de edições críticas mais profundas e completas, pois apresentam contradições factuais e tendem a fazer uma apologia de seu caráter e obras; assim, deveriam ser analisadas sob uma óptica mais científica e mais isenta de apreciações emocionais do que tem ocorrido até agora, a fim de que sua verdadeira estatura como figura histórica e social, e não apenas religiosa, se esclareça. De qualquer forma, sua posição como um dos grandes santos da Cristandade se firmou enquanto ele ainda era vivo, e permanece inabalada. Foi canonizado pela Igreja Católica menos de dois anos após falecer, em 1228, e por seu apreço à natureza é mundialmente conhecido como o santo patrono dos animais e do meio ambiente.[3]