A cidade de Pombal localiza-se no alto sertão da Paraíba, foi o primeiro núcleo populacional do interior sertanejo. Foi ela quem deu origem a outros núcleos habitacionais da região. Na velha cidade, entre outros marcos históricos, destaca-se a Velha Cadeia, que mantêm ainda suas linhas arquitetônicas, denunciando em nosso tempo, a introdução de um marco da era imperial no alto sertão paraibano. Desativada como presídio, a Velha Cadeia deveria ser o Museu do Cangaceiro, o que bem caracterizaria sua história, mas o projeto não foi adiante. Alicerçada no ano de 1848, famosa porque concentrava presos perigosos do Estado e cangaceiros da década de 20 e 30 do século passado, a Velha Cadeia não abriga mais presos, mas uma instituição denominada de Casa da Cultura, necessitando de mais zelo e maior identificação com sua história.
Em suas celas de parede largas e piso de tijolos rústicos passaram muitos criminosos que marcaram época, a exemplo: Donária dos Anjos, que durante a seca de 1877, segundo a própria, “para não morrer de fome”, matou uma criança e comeu sua carne. O bandido “Rio Preto”, que se dizia, tinha um pacto com o diabo: “era curado de bala e faca, no seu corpo os punhais entortariam as pontas e as balas passariam de raspão”. Ferido à bala por vingança, “Rio Preto” morreu dentro da velha cadeia. Outro preso famoso foi Chico Pereira, que após a morte de seu pai se fez um dos grandes chefes do cangaço no sertão da Paraíba. Os fanáticos Pretos da “Irmandade dos Espíritos da Luz”, chefiados por Gabriel Cândido de Carvalho, depois da prática de crimes, também tiveram sua participação na história da velha cadeia.
Mas entre muitos acontecimentos, um se destaca pela audácia: Jesuíno Brilhante, cangaceiro inteligente, com certa instrução educacional, foi protagonista da história, que se deu da seguinte forma: Lucas, irmão de Jesuíno, cometeu um crime em Catolé do Rocha, foi preso e remetido, havia tempo, para cadeia de Pombal, onde estavam mais de 50 presos da cidade e de outras vizinhanças. Como o julgamento estava demorando, Jesuíno tomou a decisão de libertar o irmão. Às duas horas da manhã de 19 de fevereiro de 1874, numa quinta feira, chovendo bastante, não havendo ronda noturna, Jesuíno Brilhante, seu irmão João Alves Filho, o cunhado Joaquim Monteiro e outros, perfazendo um total de oito cangaceiros, todos montados a cavalos, atacaram de surpresa a Velha Cadeia, que na época era guarnecida por um cabo, onze soldados da Guarda Nacional e um da Polícia. Despertando-os a tiros, dizendo em voz alta os nomes dos primeiros atacantes, destacados como os mais importantes do bando, dando viva a Nossa Senhora, os oitos cangaceiros conseguiram dominar todos os soldados. Enquanto isso, os presos acendiam velas e lamparinas para iluminar as celas. Os cangaceiros se apoderaram das armas e munições, distribuiriam com presos que, aos poucos, iam ganhando liberdade e ajudando no ataque. Arrebentaram cadeados, fechaduras, dobradiças, grades e saleiras com pedras, machados e outros instrumentos. Foi um verdadeiro levante, na maior algazarra. Depois se retiraram gritando pelas ruas, quando já se tinham evadido 42 presos de justiça, ficando 12 que não quiseram fugir. Os fugitivos tomaram rumos diversos, não constando nos autos a captura de um só criminoso. Nunca tantos presos deveram tanto, a tão poucos bandoleiros.
Hoje, a Cadeia Velha, que resiste à passagem do tempo, é um marco da era imperial encravada no sertão da Paraíba, uma relíquia da memória pombalense, que faz parte do centro histórico da nossa querida cidade. Então, quando estiver em Pombal, visite a Cadeia Velha – A Casa da Cultura – os seus passos serão os de muitos que ali passaram e fizeram história, infelizmente, de muitos crimes.
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