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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Especial

Cangaço e Transculturalismo na Paraíba
Antes do grande encontro dos cangaceirólogos paraibanos, ocorrido no último dia 25 de janeiro, no Shopping Sul, em João Pessoa, capital do estado, o pesquisador social Epitácio Andrade teve um contato interpessoal com o médico oftalmologista Vanderlan de Souza Carvalho, quando abordaram a interação dos saberes popular e científico, a partir do fato histórico marcado pela perda do olho direito do Rei do Cangaço Virgulino Ferreira, o Lampião.
Foto: Tiara Andrade
Epitácio Andrade autografa para Vanderlan Carvalho
O médico psiquiatra Epitácio Andrade procurou seu colega contemporâneo de faculdade para autografar seu livro “A Saga dos Limões – Negritude no Enfrentamento ao Cangaço de Jesuíno Brilhante”, e estabelecer um diálogo sobre a visão subnormal de Lampião, analisando um possível acidente com a perfuração do globo ocular com um espinho na caatinga e/ou a evolução de uma doença degenerativa ocular, como o glaucoma.
Alguns biógrafos de Lampião aventam a possibilidade da perda do olho direito ter ocorrido nos anos 20, durante enfrentamento com volantes, quando houve o acidente com um espinho, que foi retirado por um médico na cidade de Triunfo, no interior pernambucano. Na ocasião, ao ser informado da possível cegueira decorrente da lesão ocular, Lampião teria dito que só precisava de um olho para atirar.
Reprodução: Internet
Virgulino Ferreira, o Lampião
Na época da provável perfuração do olho direito de Lampião, era tradição pelo conhecimento popular a extração do “olho vazado” para não se passar a cegueira para o outro olho. Para o especialista Vanderlan Carvalho, esta explicação do saber popular encontra respaldo no saber científico, tendo em vista uma possível reação antígeno-antícorpo, onde o sistema imunológico passa a identificar o olho são como corpo estranho.
O especialista em oftalmologia Vanderlan Carvalho afirmou também que a tendência atual da cirurgia ocular diante de lesões perfurantes do olho humano é cada vez mais a preservação dos tecidos remanescentes, uma vez que a proteção para uma possível reação antígeno-anticorpo é possibilitada pela utilização das modernas drogas imunossupressoras, inexistentes na época do cangaço lampiônico.
Foto: Tiara Andrade
Cangaceirólogos reunidos em João Pessoa/PB
Já no encontro com os cangaceirólogos paraibanos, o médico psiquiatra Epitácio Andrade passou a desenvolver conversas informais com seus pares, acerca de uma possível doença degenerativa dos olhos que poderia portar Lampião, que teria sido agravada pela vivência estressogênica da vida cangaceira e pelas situações angustiantes das mortes do pai e dos irmãos, apresentando desta forma uma hipótese psicossomática para a evolução da subnormalidade visual do rei do cangaço.
Foto: Tiara Andrade
Professora Lúcia Holanda, a presença feminina
A professora Lúcia Holanda, natural de Serra Talhada, no interior de Pernambuco, que defendeu a dissertação de mestrado: “Lugares de Memória – Jesuíno Brilhante e os Testemunhos do Cangaço no Oeste do Rio Grande do Norte e Fronteira Paraibana”, no final de 2010, na pós-graduação de geografia da Universidade Federal da Paraíba, lembrou que a peça de autenticidade comprovada, marcadora do déficit visual de Lampião, o par de óculos de ouro 16, foi recuperada, recentemente, pela polícia civil pernambucana após ter sido furtada do museu de sua terra natal.
Reprodução: Polícia Civil/PE
Par de óculos de Lampião recuperado pela Polícia Civil
O poeta e cordelista Gil Hollanda ressaltou a capacidade de intervenção estética de Lampião, lembrando que este formato de óculos ficaria, posteriormente, imortalizado na face do músico pacifista britânico John Lennon, morto em 08 de dezembro de 1980.
Reprodução: Internet
John Lennon (1940-80)
O trânsito pelos diversos sistemas culturais foi percebido, perfeitamente, por Narciso Dias que coordenou e facilitou os entendimentos transculturais abordados pelos presentes, ora em discussões formais, ora em conversas interpessoais.
Foto: Epitácio Andrade
Narciso Dias coordenou encontro
O menestrel cangaceirólogo João Bezerra da Nóbrega contribuiu com o transculturalismo do encontro, reportando-se a morte do cangaceiro Liberato Cavalcanti de Carvalho Nóbrega em 1879, numa prisão da capital paraibana durante a epidemia de varíola, que se espalhou pelo nordeste, a partir da “seca dos dois sete”.
Foto: Epitácio Andrade
Coronel João Bezerra da Nóbrega
Reportando-se aos laços genealógicos que unem os escritores João Bezerra da Nóbrega, seu primo Gil Hollanda e a si próprio, o pesquisador social Epitácio Andrade afirmou que no livro “A Família Nóbrega”, de Trajano da Nóbrega, esta relação está bem estabelecida, como também o parentesco com Liberato Nóbrega, que é citado em “Flor dos Romances Trágicos”, de Luiz da Câmara Cascudo, e foi alcunhado por Gil Hollanda em folheto de cordel como “O delegado que virou cangaceiro”, editado em março de 2008, com apoio da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC).
Reprodução: Epitácio Andrade
Capa “O delegado que virou cangaceiro”
Natural de Custódia, no interior pernambucano, o confrade Jorge Remígio enriqueceu o debate apresentando importantes referenciais teórico-conceituais, que oferecem assento científico aos estudos do cangaço.
Foto: Epitácio Andrade
Jorge Remígio com Narciso Dias
Ao lado de Narciso Dias e do escritor João Bezerra da Nóbrega, autor de “Lampião e o Cangaço na Paraíba”, Jorge Remígio forma a base de sustentação do grupo de estudos do cangaço paraibano, que é reforçado por companheiros, igualmente, importantes.
Jair Tavares, Manoel Costa e Joaquim Furtado são apologistas da cultura nordestina e reforçam o grupo de cangaceirólogos paraibanos, que desencadearão um conjunto de ações culturais para fomentar o estudo do cangaço nas gerações futuras.
Foto: Epitácio Andrade
Jair Tavares, Manoel Costa e Joaquim Furtado
O parentesco do coronel João Bezerra da Nóbrega, com o poeta Gil Hollanda e com o capitão médico Epitácio Andrade é reforçador do desenvolvimento de trabalhos sobre o resgate de cangaceiros da família Nóbrega, como “Jurema”, Inácio de Loiola de Medeiros Nóbrega, que se encontra relatado em “Lampião e o Cangaço na Paraíba”, do escritor João Bezerra, e Liberato Cavalcanti de Carvalho Nóbrega, personagem do cordel “O delegado que virou cangaceiro”, de Gil Hollanda, baseado em pesquisa etnográfica de Epitácio Andrade.
Foto: Tiara Andrade
Epitácio Andrade, Cel. Nóbrega e Gil Hollanda
O casal de professores Gil e Lúcia Hollanda tem uma preocupação com a discussão sobre estudos do cangaço com as gerações futuras. O poeta Gil Hollanda publicou o cordel “O grande encontro do cangaceiro Jesuíno Brilhante com o cabo Preto Limão”.
Numa parceria com a esposa Lúcia, o professor Gil Hollanda está preparando o livro paradidático “Nas Trilhas do Cangaço de Jesuíno Brilhante”, com previsão para ser editado no primeiro trimestre deste ano.
Reprodução: Epitácio Andrade
Capa de cordel cangaço Brilhantes X Limões
“Guerra dos Comboios” é um áudio-visual, que está sendo produzido pelo pesquisador social Epitácio Andrade e deverá compor o conjunto da produção transcultural do grupo de cangaceirólogos paraibanos, com conclusão prevista para o segundo semestre.
Foto: Josa Kung-fu
Making of de “Guerra dos Comboios”
A produção transcultural é o caminho de superação do reducionismo e aponta para novos olhares sobre os processos sociais.
Fonte: Epitácio Filho.

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