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domingo, 10 de junho de 2018

Especial: Escola de Xilogravura de Mossoró

Texto de Márcio Dantas.
João da Escóssia e sua Oficina de Xilografia não ficaram chantados a um tempo e a um espaço. Detentor de excepcional domínio da gravura sobre madeira, difundiu seu trabalho como ilustrador de escritos do jornal O Mossoroense, além de aceitar trabalhos outros como marcas de firmas ou rótulos de produtos comerciais.
Essas gravuras não detinham pura e simplesmente um valor funcional, mas, devido ao esmero e a notável capacidade do autor no conhecimento da técnica, também se revestiam de um cuidado que as lançam para as fronteiras do estético, buscando o traço perfeito, harmonioso e belo que as obras de arte proporcionam aos que buscam fruir num impresso mais do que um enfeite para determinado escrito ou produto.
Muito bem, por isso podemos falar de uma Escola de Xilogravura de Mossoró, na medida em que alguns pósteros deram excelentes soluções de continuidade, evitando que uma antiga forma de gravura estancasse em um artista.
Vamos começar pelo Sr. Henrique Mendes (Mossoró, 15/07/2025), propietário da firma: Carimbos Mossoró. Henrique Mendes e Filhos: Fátima Mendes e Michel de Montaigne Mendes, situada à rua Dr. Antônio de Souza, 55. Há um álbum deixado pelo proprietário que demonstra a qualidade gráfica e estética das gravuras como marcas de firmas ou produtos comercializados na cidade. O álbum é dividido em duas partes. Uma concerne ao Sr. Henrique Mendes, outra ao grande artífice Menelau.
Nas gravuras da primeira, que não se encontram assinadas, fica patente o domínio da gravura elaborada na madeira, que, como todos sabem, requer a compreensão de como imprimir somente duas cores: o preto e o branco. Mesmo assim quem as fez soube dar estaticidade e movimento aos animais, às assinaturas, aos nomes de firmas, consoante ao que o desenho exigia. Há uma espécie de carta de ABC muito graciosa e eivada de didatismo. O desenho da letra em caixa-alta à esquerda, à direita apôs algo do nosso entorno que se inicia por aquela letra.
Com Francisco Menelau, participante da Revolta Comunista de 1935, a xilogravura e a arte tipográfica, tanto analógica quando digital, atingem seu fastígio. Dotado de um talento como até então não havia aparecido em Mossoró, consegue dominar com exatitude as relações de proporções entre volumes contidos em espaços determinados, assim como configurar simetrias bilaterais causadoras de harmonia e agradável senso geométrico, de maneira ousada para a época elabora rótulos de produtos comerciais através de contrastes inusitados, ou seja, combina cores que, via de regra, não são tidas como compatíveis, tais como: vermelho/amarelo, vermelho/verde-escuro, vermelho/azul-marinho, produzindo aos olhos do expectador/consumidor um efeito de estranhamento que o impulsiona para o objeto exposto.
Menelau também demonstrou suas capacidades através dos retratos de pessoas, sobretudo limitando-se à cor e à linha sinuosa que imprimia ao rosto semblantes bem diferenciados e não caricaturais, captando por uma economia de meios uma eventual personalidade. 
Em síntese, esses três artistas, involuntariamente, fundaram e alimentaram uma tradição que se encontra no Nordeste mais vinculada às capas dos livretos de literatura de cordel. Ele usaram a xilogravura em outros meios que careciam de ilustrações, tais como o jornal ou demandas do comércio em busca de comercializar seus produtos.

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