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terça-feira, 23 de setembro de 2025

Especial: Leide Câmara: por uma paixão pela música.

A maior pesquisadora da música de natureza popular é Leide Câmara, cujo livro vamos esperar uns 100 anos para que venha à luz outro que se assemelhe ou também que possa superar (tarefa quase inútil). A pesquisa é insuperável, com datas, nomes de lugares e, quase sempre, a íntegra do vinil ou CD lançado pelo artista. É extremamente prazeroso ler esse livro com tantas informações que gestarão um substrato matriz para prósperas pesquisas acerca da história da MPB e, sobretudo, para o Rio Grande do Norte. Leide Câmara chantou seu nome no caderno de grossa lombada da História. A História é a prova dos nove. Sua seara já rebenta flores e frutos. Há que buscar segadores de grande interesse e amor pela música. A rainha do Chorinho, um estilo de música caminhando para a extinção,  a grande Ademilde Fonseca.  Nasceu  em uma localidade chamada Pirituba (Fazenda Califórnia). E que vem a ser hoje São Gonçalo do Amarante. Aos 19 anos casou em Natal com o violonista Naldimar Gedeão.  Em 1940 a família mudou-se para o Rio de Janeiro. Faleceu em 27.03. 2012 (Rio de Janeiro). Sua forma apressada no pronunciar às sílabas,  característica principal desse estilo de música, elevou-a a registrar seu nome como a mais completa desse modo de cantar, que obriga o cantor a alternar as consoantes e vogais em uma ligeireza que nunca houve quem conseguisse essa cadência.  É mister dizer que, assim como o balé clássico,  ela dominava o palco em amplitude muito complexa.  Ou seja, domínio e ginga no palco, além de ter completo   domínio no pronunciar exato das palavras concluindo para o referente (tema) da música que cantava. Palco e voz em um só amálgama,  além da elegância, gentileza com todos que conviveram com ela Para quem acha pouco,  Ademilde Fonseca tem uma música de João Bosco e Aldir Blanc fazendo valer a importância do chorinho cantado. 
Não há maior homenagem à uma diva dessa espécie de canto/singularidade nos instrumentos que, no fundo,  buscam o lépido obrigatório de uma voz que nem toda cantora consegue. Podemos comparar didaticamente com o modus operandi da ópera.  Desde muito precisava que o cantor ficasse parado,  sem mexer o diafragma, para não desafinar. O chorinho de Ademilde Fonseca no palco permitia que a voz tivesse grande agilidade,  e como Maria Callas, movimentava-se com naturalidade.  Foi assim que interpretou a música Tico-Tico no fubá, na sua primeira versão com letra, e não apenas melodia dos instrumentos apropriados para tocar esse ritmo de uma beleza que sempre foi popular,  pena que a tendência é, talvez, desaparecer. Wanderlea recentemente lançou um disco só com os clássicos do chorinho. Coisa para lá de bela. Sua presença na cena da MPB coincide com os tempos do apogeu do rádio.  Trabalhou em muitas delas,  sempre mostrando o apuro do seu trabalho.  Era uma diferença no conjunto de cantoras da época. Elegante e digna, impunha respeito na plateia. Não havia como não gostar dessa mulher que se fez cantora de um gênero musical nem sempre fácil de realizar uma performance de qualidade. Sejamos justos, honra eterna à uma das personagens mais marcantes da MPB.
Seu semblante, antes de fazer o canto garrido, era de uma refinada discrição,  fazendo saber que ali se encontrava uma pedra preciosa da MPB, admirada, por sua jovialidade,  pela melhor crítica da MPB. Quero dizer com isso que fundou uma escola no modo diferente de cantar ligeiro,  como se fosse lesto, obrigando o expectador a se concentrar em ouvir essa mulher que veio do litoral das terras do Nordeste.  Hoje Macaíba faz parte da grande Natal. Por fim, Leide Câmara nasceu no Alto Oeste,  na cidade de Patu, onde o sertão alcança seu apogeu,   tanto no bioma, mas também em possuir uma etnografia de riqueza de costumes, inclusive de músicas com seus acordes diferenciados. Enfim, essa escola cujo fundante é Ademilde Fonseca, se estendeu para todo o país. Um estilo que poucos cantores são capazes de se filiar nessa jovialidade e amor ao canto.

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