Por Márcio de Lima Dantas
Roland Barthes
Pacífico Medeiros (Natal, 1967) reside desde sempre em Mossoró. Tendo uma carreira pontuada por diversos cursos e eventos vinculados à fotografia, embora haja nos seus trabalhos uma distância das técnicas utilizadas desde sempre nesse meio de retratar a realidade. Antes de adentrarmos um pouco mais sobre esse original fotógrafo, cremos ser necessário voltar no tempo e buscarmos determinadas explicações que nos ajudem a compreender com mais propriedade e conhecimento alguns estilos de pintura que sofreram impacto quando do surgimento da fotografia. Vejamos. Quando surge a fotografia, por volta de 1826, instala-se uma série de indagações acerca dessa nova maneira de retratar a realidade. Ao que parece, não havia o artesanal da pintura, do desenho ou da escultura. A pintura, mais apressada, sentiu-se emparedada, inquirindo afinal qual era mesmo sua função, pois sempre ocupou o papel de retratar a realidade, seu entorno e contornos. Sintomaticamente surge o Impressionismo, deixando a tela esmaecida ou tão-somente sugerindo, sobretudo, a retratação do humano.
O recuo de formas bem diferentes, assim como sabia fazer o Realismo, Romantismo ou Academicismo, engendrou imagens que necessitavam de recuo físico da tela para que a imagem se desse a observar e conhecer. Basta contemplar a tela de Claude Monet: Impressão, nascer do sol (1872). Acabada essa digressão, cumpre-nos tratar do ethos da fotografia fora do comum de Pacífico Medeiros. Refratando modelos, o produto final desse artista ocorre por meio de uma sobreposição de técnicas advindas de outros sistemas semióticos, sendo que estas são produzidas através de programas de computadores, em um jogo no qual a fotografia primeva esmaece e é também ressaltada. Quase sempre emoldurando com contornos dramáticos o retrato de quem expressa um sentimento ou encontra-se envolvido em atividades de algum ofício. Tais figuras podem ser duplicadas ou triplicadas em uma espécie de crescendo, engendrando um belo efeito cromático de preto e branco sobre figuras geométricas coloridas.
Com efeito, há que compreender a função de múltiplas técnicas, - passando pela gramatura do papel e indo buscar um pano-de-fundo nos antigos mosaicos (ladrilhos) de residências ou igrejas, só para restar em um exemplo, - essa função perfaz uma aura estética inauguradora de uma nova obra, quem sabe uma nova ordem de pensar e refletir acerca da realidade. Quero dizer com isso de uma nova ordem na fotografia, no qual a mensagem, via meios tradicionais e digitais, assomam no nosso derredor, largando uma forma monolítica que o retrato em preto e branco ou colorido demanda ao expectador. Mesmo detendo um eidos estético, com o sumo da mensagem multisignificativo, não esquece de apontar caminhos e pistas a quem está diante. Bem claro que o significante suplanta e questiona o que se diz, sugerindo o como.
Sucede um fenômeno nosso momento histórico; como sempre, este, fruto das condições socioeconômicas que a tudo e todos pintam com suas cores e nuances. A saber, uma algazarra de informações contidas nas redes sociais, sintetizadas no nome Internet. Muitos nem conseguem alcançar certas nomenclaturas e determinados manuseios nos grupos sociais. Contudo, podemos equacionar da seguinte maneira: tem tudo de bom, tem tudo de ruim. Nunca esquecendo o mal-estar que bafeja sobre tudo e todos, inclusive sobre a crítica de arte, ao que parece, em franca extinção. O fotógrafo Pacífico Medeiros optou pela primeira, ousando inscrever suas fotografias em um amálgama de técnicas oriundas de diversos meios.
Não deixando de lado o kairos, ou seja, o momento certo, a oportunidade não perdida de apreender através da objetiva elementos figurativos que irão compor uma espécie de ponto de fuga: mulheres, homens trabalhando, uma senhora que aquiesce, por meio das mãos, as vicissitudes do destino.
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