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sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Especial: Pacífico Medeiros: resignificando a fotografia


Por Márcio de Lima Dantas 

No fundo, a Fotografia é subversiva, não quando  
aterroriza, perturba ou mesmo estigmatiza, mas  
quando é pensativa. 

Roland Barthes 



Pacífico Medeiros (Natal, 1967) reside desde sempre em Mossoró. Tendo  uma carreira pontuada por diversos cursos e eventos vinculados à fotografia, embora haja nos seus trabalhos uma distância das técnicas utilizadas desde  sempre nesse meio de retratar a realidade. Antes de adentrarmos um pouco mais sobre esse original fotógrafo, cremos  ser necessário voltar no tempo e buscarmos determinadas explicações que  nos ajudem a compreender com mais propriedade e conhecimento alguns estilos de pintura que sofreram impacto quando do surgimento da fotografia. Vejamos. Quando surge a fotografia, por volta de 1826, instala-se uma série  de indagações acerca dessa nova maneira de retratar a realidade. Ao que  parece, não havia o artesanal da pintura, do desenho ou da escultura. A  pintura, mais apressada, sentiu-se emparedada, inquirindo afinal qual era  mesmo sua função, pois sempre ocupou o papel de retratar a realidade, seu  entorno e contornos. Sintomaticamente surge o Impressionismo, deixando a  tela esmaecida ou tão-somente sugerindo, sobretudo, a retratação do  humano.

O recuo de formas bem diferentes, assim como sabia fazer o  Realismo, Romantismo ou Academicismo, engendrou imagens que  necessitavam de recuo físico da tela para que a imagem se desse a observar e conhecer. Basta contemplar a tela de Claude Monet: Impressão, nascer do  sol (1872). Acabada essa digressão, cumpre-nos tratar do ethos da fotografia fora do  comum de Pacífico Medeiros. Refratando modelos, o produto final desse  artista ocorre por meio de uma sobreposição de técnicas advindas de outros  sistemas semióticos, sendo que estas são produzidas através de programas de computadores, em um jogo no qual a fotografia primeva esmaece e é também  ressaltada. Quase sempre emoldurando com contornos dramáticos o retrato  de quem expressa um sentimento ou encontra-se envolvido em atividades de  algum ofício. Tais figuras podem ser duplicadas ou triplicadas em uma  espécie de crescendo, engendrando um belo efeito cromático de preto e  branco sobre figuras geométricas coloridas. 

Com efeito, há que compreender a função de múltiplas técnicas, - passando  pela gramatura do papel e indo buscar um pano-de-fundo nos antigos  mosaicos (ladrilhos) de residências ou igrejas, só para restar em um exemplo,  - essa função perfaz uma aura estética inauguradora de uma nova obra, quem  sabe uma nova ordem de pensar e refletir acerca da realidade.  Quero dizer com isso de uma nova ordem na fotografia, no qual a mensagem,  via meios tradicionais e digitais, assomam no nosso derredor, largando uma  forma monolítica que o retrato em preto e branco ou colorido demanda ao  expectador. Mesmo detendo um eidos estético, com o sumo da mensagem multisignificativo, não esquece de apontar caminhos e pistas a quem está  diante. Bem claro que o significante suplanta e questiona o que se diz,  sugerindo o como.

Sucede um fenômeno nosso momento histórico; como sempre, este, fruto  das condições socioeconômicas que a tudo e todos pintam com suas cores e  nuances. A saber, uma algazarra de informações contidas nas redes sociais,  sintetizadas no nome Internet. Muitos nem conseguem alcançar certas  nomenclaturas e determinados manuseios nos grupos sociais. Contudo,  podemos equacionar da seguinte maneira: tem tudo de bom, tem tudo de  ruim. Nunca esquecendo o mal-estar que bafeja sobre tudo e todos, inclusive  sobre a crítica de arte, ao que parece, em franca extinção. O fotógrafo Pacífico Medeiros optou pela primeira, ousando inscrever suas  fotografias em um amálgama de técnicas oriundas de diversos meios.

Não  deixando de lado o kairos, ou seja, o momento certo, a oportunidade não  perdida de apreender através da objetiva elementos figurativos que irão  compor uma espécie de ponto de fuga: mulheres, homens trabalhando, uma  senhora que aquiesce, por meio das mãos, as vicissitudes do destino.











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