email atual aluisiodutra@gmail.com

terça-feira, 8 de abril de 2025

Especial: Napoleão Nunes: metáforas do efêmero embelezam a realidade.

Por Márcio Lima Dantas. 



Napoleão Nunes (Natal, 1978), no seu ofício de artista visual, exercitou uma  variedade de técnicas, tanto no uso da pincelada quanto na apreensão de eventual tema,  expressando toda uma gama de multifária capacidade de rubricar a apreensão de uma  enormidade de objetos, animais, autoestradas das cidades, nu feminino, escultura em grés  cerâmico vidrado, pássaros nas folhagens e rosto de criança. O escopo que serve de substrato para a borboleta evidenciar sua breve vida como  Metáfora nos conduz ao símbolo da transformação. Sua vida é uma sucessão de quatro  etapas: ovo, larva, pupa (crisálida) e imago (adulta). O fato de se transformar e ficar presa  durante algum tempo, sem guarida, sem substância de maior função vital, sem companhia,  sem conselho de mãe, deixa-a angustiada para se desvencilhar desse cárcere. Com efeito, a borboleta vem a se tornar um símbolo detentor da noção de  transformação, de um vir a ser, do que aguarda, do efêmero da natureza que vem a se  renovar, assim como o círculo solar e o círculo lunar. Dessa feita, transforma-se em uma  bela Metáfora de tudo o que flui e transmuta-se, sendo da natureza, estando aí na  realidade, nos canteiros que dividem o meio da rua, nos jardins das casas modestas dos  subúrbios, nas herdades nas quais habitam os abastados. Em assim sendo, a Metáfora da beleza das borboletas, variegadas em cores  múltiplas, desenhos multicoloridos, outorga o advento de um pulsar espiritual dos mais  marcantes e mais intensamente emergindo do que emana também de uma simbologia que  registra o recomeço das coisas, do dia, dos relacionamentos interpessoais. Por isso que  seria bom evocar a pupa (crisálida) e o imago (adulto).

O certo é que todas as culturas  reverenciaram a borboleta como observada e cultuada, conduzindo a uma espécie de  persignação, em um louvor ao recomeço, às boas energias, alternando-se, em uma  efeméride em que o sol rebrilha a cada dia, iluminando cada borboleta. Sucede que as tomadas de longe (Orla de Cabo Branco), rio com uma ponte, sendo  uma ilha separando as duas margens, a praia de Ponta Negra, a praia de Cabo Branco, as  aves (Galo de Campina), o cardume de peixes, o cachorro, as mulheres nuas, não passam  de puro pretexto para exercitar a capacidade de captar a luz de um dia no qual esplende o  sol, clareando, de perto ou de longe, a amplitude da transparência plena de Apolo a  demonstrar seu poder sanativo.

Por enfim, buscamos demonstrar ao longo deste texto que a multiplicidade  encontrada na obra de Napoleão Nunes referenda o fato de o artista não está em busca de  um estilo, uma dicção, uma gramática, que possa ser sua assinatura e o contemplador de  longe já possa afirmar que “aquela tela pertence a Napoleão Nunes”. 

Na verdade, a quantidade de técnicas e temas é tão grande que ninguém poderia chancelar esse quadro com borboletas e flores ou a orquídea entre folhagens verdes como  inerente à rubrica do artista. De jeito qualidade se poderia deixar de salientar sua verve,  sua capacidade, sua confiança na sintaxe do seu domínio do pictórico. O que sucede com  Napoleão Nunes é tão-somente um processo de Metalinguagem, ou seja, quando o código  se volta sobre si mesmo. Ao invés de tratar de outro objeto, de outro conceito, de outra  comarca, seja lá o que for, menos o código se voltar sobre si mesmo. Quero dizer acerca do conjunto que essa série circunscreve, que não foi por acaso,  mas muito mais que o expressivo pictórico colocado em evidência. Quer dizer, o artista  coloca o código para falar dele mesmo. Estamos tratando da Metalinguagem (esse  conceito vem da Linguística, estou me apropriando e transferindo suas categorias de  análise para a arte pictórica). Vejamos por que: a obsessão da borboleta pousar sobre  várias cores e formas, assim como o lugar de repouso, as flores e seu colorido, normal ou  dobradas; e, finalmente, as exquises orquídeas e sua opulenta maneira de estar nos jardins  ou no meio do mato. Vejamos como essa gramática funciona. Se a pintura ou o desenho busca não se  voltar sobre algum aspecto da realidade, em uma atitude de realismo muito próximo aos elementos que estão ao redor do pintor, mas se compraz em pintar pintando. Por exemplo,  um pintor cujo tema que consta na tela é alguém que pinta uma paisagem ou elabora um  retrato. No caso de Napoleão Nunes, são inúmeras as pinturas de borboletas sobre uma  flor, ou orquídeas. Vamos nos deter somente nessas três imagens, bem claro que o artista  variou tanto na forma quanto na técnica. Eis que encontramos mulheres nuas, Orla de  Cabo Branco, peixes, rosto de criança, paisagens rurais.

 Essa invariante, da borboleta sobre a flor, longe de ser uma obsessão do artista,  desenvolve-se como o fulcro de onde se dissipa aquela que vai ser a comarca da  Metalinguagem. É o cerne de onde o artista, com suas pinceladas espessas, com suas pinceladas em forma de pequenos retângulos miúdos, busca extrair, por meio de uma  justaposição, o efeito tanto da cor quanto da luz solar. Bem diferente das pinceladas mais suaves da pintura acadêmica, buscando retratar  o real do jeito que ele se apresenta e não distorcendo (no bom sentido) em nada, como se  fosse um retrato ou se pintasse por meio da fotografia. Para encerrar, o que chamei aqui de Metalinguagem é um se deter de um (código = pintura) e que se ousa ficar sobre ele mesmo (código = fazer/fazendo uma borboleta  sobre uma flor). Sucede dessa maneira: como se o teatro discorresse acerca do teatro.
A  quantidade do que falei, só pode ser por conta de uma coisa: o artista busca, através de  um exercício contínuo que não chega a enfadar, pelo contrário, se esmera, com as pinceladas consistentes, com encorpamento de tinta, aqui ou acolá exercitando uma  sombra ou outra. Com efeito, nenhum estilo histórico poderia ser mais adequado ao exercício de  uma pintura que se volta sobre si mesma: o Expressionismo tão peculiar de Napoleão  Nunes. Mesmo o Expressionismo nos seus primórdios, no início do século XX, esse artista ainda consegue chantar diferenças, mesmo porque o nosso sol é bastante diferente  do hemisfério norte, cuja luminosidade resplende uma transparência que ressalta as  nossas cores e nuances. Por fim, gostaria de dizer que a Metalinguagem – o artista  pintando os mesmos temas – nos conduziu a pensar dessa maneira. Há uma mensagem que evidencia ela mesma, ou seja, a insistência de fixar sobre  um mesmo tema, como se necessitasse aprender a arte do Expressionismo e o que  encontrou de melhor para o prazer do domínio foram apenas três elementos: orquídea,  beija-flor e qualquer espécie de flor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário