Clarissa Torres: feminilidade e ruptura de paradigmas
O livro de Maria Bezerra, Emancipação política da mulher potiguar (Natal: Sapp, 2019), vem preencher uma lacuna no que diz respeito à existência de material como fonte primária para eventuais pesquisas futuras. Sempre que nos chega material com essa espécie de conteúdo, exultamos, pois nossa História enriquece o cabedal de obras que sistematiza de maneira rigorosa o tema proposto.
Eis no que se inscreve o precioso livro da inesquecível Assuense Maria Bezerra, que não apenas registra de maneira disciplinada, por meio de datas, situação geográfica, bem como desenhos de rosto das mulheres que ocuparam cargos públicos no estado do Rio Grande do Norte. A impressão que passa é que tudo foi meticulosamente calculado num gesto amoroso, não discriminando ou deixando de fora quem quer que fosse.
Consabido é que o Rio Grande do Norte foi o lugar no qual irrompeu a emancipação política da Mulher, com a primeira eleitora do país, Celina Guimarães, bem como a primeira prefeita, Alzira Soriano. Tais fatos históricos parecem que decantaram no imaginário coletivo as raízes do que pósteras mulheres ocupariam os lugares que sempre pertenceram aos homens. Na História há sempre uma primeira luz que irrompe onde é sombrio e se repetem os lugares ocupados pelos mesmos desde sempre, como é o caso do masculino na política. Então emana uma chispa de luz que vem a ser não fogo de coivara, levado pelo vento, mas sólida fogueira de boa madeira que arderá, iluminando a marcha da História em direção ao futuro.
É o que sucede hoje em dia. Tornou-se banal a mulher ocupar cargos em todos os níveis da política. Embora algumas ainda mantenham um comportamento advindo do patriarcado, contudo, isso não é regra geral, visto que uma grande parte
prefere não repetir posturas masculinizadas ou autoritárias. Evoco aqui a amiga de Maria Bezerra, a escritora Maria Eugênia Maceira Montenegro, que foi prefeita de Ipanguaçu, criando bibliotecas, teatro e atividades que fortalecessem o espírito. Nunca esquecendo de dar guarida aos desabrigados das enchentes ou das secas.
O livro de Maria Bezerra chegou com o frescor do novo, ou seja, é bastante atual, pois mais e mais a mulher busca sua igualdade face aos homens. E isso em todos os níveis: no trabalho, nas profissões, na divisão das tarefas domésticas com seus cônjuges, enfim, na política, como bem cartografou o livro, mapeando todo o estado do Rio Grande do Norte, demonstrando que muitas informações ainda estão por se fazer divulgar, para que a mulher compreenda seu lugar de igualdade com os homens.
Gostaria de lembrar os desenhos à caneta esferográfica de Iran Dantas, artista de grande talento de Currais Novos. Os de algumas páginas internas são extremamente simples, o fundo preto com o rosto desenhado de branco. O que os torna de uma sofisticação eivada de simplicidade, a coisa mais difícil em arte: dizer o muito com o pouco. Ele o faz com poucas linhas, impregnando de grande poder de sugestão, fazendo saltar do papel a figura desenhada.
Márcio de Lima Dantas.
Professor de Literatura Portuguesa do Departamento de Letras - UFRN.
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