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terça-feira, 22 de agosto de 2017

Valorosos apóstolos do Nordeste, que as Bençãos de Deus e do Padim Ciço recaiam sobre vós!

  José Romero Araújo Cardoso.
                                                           


          Parece que foi ontem, pois quem ama o Nordeste ainda se lembra. 1958, ano marcante, seca braba, castigando com inclemência a nossa brava gente, trazendo agruras e desditas, mas que assinalou o surgimento de vocês no cenário artístico, com o trio sendo batizado por dona Helena, auspiciado por Gonzagão.
          Houve um pacto, feito em prol da valorização da terra, do povo e dos costumes nordestinos. Hoje, precisamos mais do que nunca que artistas regionais repitam seus gestos, pois torna-se inadmissível suportar a descaracterização vil e mundana, alicerçada no fetiche da grana solta que permite determinadas posturas, incluindo nestas absurdas declarações de que a molecagem que enodoa nossas tradições seja mais importante que o eterno sanfoneiro do riacho da Brígida no que diz respeito à autentica divulgação do Nordeste Brasileiro.
          Pacto de amor à terra e à nossa gente, pacto de valorização do autêntico forró-pé-de-serra como verdadeiro suporte da música regional, isso é o que estamos precisando, ou seja, de pessoas que ponham o pé na estrada por amor ao nordeste, que sigam os passos dos velhos precursores de outrora.
          Não agüentamos mais o estardalhaço que desvirtua nossas raízes, nossos mais valiosos bens culturais, entre os quais vocês se encontram, pois são patrimônio imaterial do povo nordestino.
          A aventura pelas veredas da terra do sol deve continuar, de forma responsável, pois nada mais marcante para um povo do que cultivar suas origens, primando pela identidade enquanto elo constitutivo do reconhecimento pleno.
          Pacto de amor ao Nordeste, essa é a meta que deve nortear as ações de quem luta para perpetuar legados imorredouros. Pacto que firme de vez a ênfase ao epicentro irradiador de toda construção identitária, tendo em vista que este tem localização geográfica especifica, com suas bases lançadas nas alterosas da Chapada do Araripe em solo pernambucano, único que comporta as coordenadas que tangenciam o formidável e estável edifício cultural que une nosso povo.
          Vocês que tanto suaram em prol de região tão rica culturalmente, intercedam junto ao Pai Celestial para que não surjam “valores” que permitam nossa descaracterização, pois demandou tempo considerável para que amadurecessem as bases da nossa extraordinária construção coletiva, tendo em vista que nesses rincões adustos firmou-se civilização condicionada pelas secas e por heranças pretéritas legadas por três raças altivas que formaram o caráter firme e irresoluto de uma gente nobre.
          Quando o trio que vocês formaram surgiu, o nordeste sorriu mais feliz, pois era sinal que a contribuição para a afirmação da autentica e indiscutível nordestinidade estava se consolidando de forma mais expressiva.
          Que o nordeste triunfe através de pactos que o beneficie enfaticamente. Só assim teremos melhores dias em uma época tão conturbada, marcada pela avassaladora falta de escrúpulos que rege mentes deturpadas pela falsa concepção de  estar servindo à região mais notável do ponto de vista de uma cultura autóctone e original.



José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo (UFPB). Professor-Adjunto IV do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografai e Gestão Territorial (UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA - UERN). Escritor. Membro da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC), do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP) e da Associação dos Escritores Mossoroenses (ASCRIM).

* Carta não classificada no III Prêmio A Carta, promovido pelo Parque Cultural "O Rei do Baião" e Caldeirão Político.

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