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terça-feira, 4 de julho de 2017

Homenagem.


Reconhecimento repetido

Parece que o tempo da saudade, que dizem ser eterno, passa mais rápido quando se trata de alguém que irá sempre povoar nosso coração. Até parece que foi ontem, mas já se passou um ano desde a morte de dona Socorro Ferreira Targino.

Ao receber o convite para a missa de um ano, em sufrágio da alma de dona Socorro, o cérebro me mandou um feixe de muitas boas lembranças.

Comecei lembrando do tempo em que ela, prefeita de Messias Targino, fundou a Creche que funcionava como uma unidade do Projeto Casulo, que era um projeto pedagógico voltado para o ensino infantil mantido através de parceria entre o Governo Federal e o Município. No Rio Grande do Norte, foram poucos os Municípios contemplados com ele, mas Messias Targino o teve, graças ao esforço daquela prefeita.

Eu até já tinha passado em meses a idade-limite para frequentar a Creche do Projeto Casulo, mas minha mãe Maria do Junco, incansável na luta por me educar e sabedora dos benefícios – pedagógicos e alimentares – que tinha a oferecer o Projeto Casulo, procurou a prefeita e lhe pediu para que eu pudesse frequentar aquela unidade de ensino.

Sempre atenciosa com minha mãe, dona Socorro nem titubeou, e dias depois eu estava lá, com aquela farda azul (do calção) e amarelo (da camisa), aprendendo e me divertindo em meio às dezenas de crianças, carentes como eu, atendidas com muito amor naquele recanto de ensino, que tinha a professora Elza Jales como diretora.

Também me recordei de quando dona Socorro conseguiu viabilizar um projeto de construção de algumas casas populares em pontos diferentes da cidade de Messias Targino. Diferentemente de hoje em dia, quando se consegue a construção de centenas de imóveis, naquela época, em que tudo era mais difícil, tratava-se apenas de poucas unidades residenciais a serem construídas pela Prefeitura.

Sempre atenciosa com minha mãe Maria do Junco, ela fez a entrega de uma dessas casas para nós, na Rua Valmir Targino, vizinho aos bons vizinhos Garrote e dona Terezinha, João Batista e Verônica.

Também me vieram à lembrança as muitas vezes em que dona Socorro passava nas sextas-feiras, após a minha aula, e mais mandando que pedindo, dizia: “Maria, vou levar Alcimar para o Cangaíra. Ele volta na segunda”. E lá, na Fazenda Cangaíra, ela me tratava com o cuidado de uma mãe que trata um filho. Essa viagem eu fiz dezenas de vezes durante a minha infância, levada por ela, até aprender a ir sozinho à casa de Socorro e Paulo, onde sempre fui muito bem recebido.

Em matéria de administração pública, as lembranças que me vieram foram além daquelas já relatadas. Foram muitas, mas vamos falar apenas de algumas. Num período de investimentos ainda menores, a prefeita Socorro Ferreira Targino conseguiu realizar em Messias Targino um grande número de obras e ações. No Hospital havia médicos e bioquímico permanentemente; a educação recebeu a coordenação da professora Marilene, de Mossoró; a cidade ganhou o serviço da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte; a cidade também ganhou um Posto Telefônico da antiga TELERN; e muito mais foi realizado.

Cristã-católica, dona Socorro, prefeita ou fora do cargo, sempre ajudou para o melhoramento da Capela de Nossa Senhora das Graças, e participava ativamente, juntamente com dezenas de cidadãos e cidadãs ilustres, dos festejos alusivos à Padroeira do Município, inclusive ajudando em muitas das festas da Santa.

Não foi o cargo de prefeita que lhe tornou melhor. Do contrário, foi seu jeito espontâneo, sincero e acolhedor que lhe fez chegar ao referido cargo e lhe fez ingressar na vida pública de Messias Targino para nunca mais sair.

A consciência está tranquila em dizer isso tudo agora, sem o peso de quem só homenageia alguém após a sua morte (hábito muito comum a todos nós), porque, em vida, eu já havia dito tudo isso a dona Socorro.

Na verdade, mais que uma homenagem, faço agora, de novo, um sincero agradecimento, a uma mulher que sempre teve por mim uma atenção especial. Não foram raros os momentos em que a vi compartilhar com minha mãe Maria do Junco a alegria diante de alguma conquista minha, por menor que fosse.

E agradeço – de novo – também como cidadão, porque, assim como muitos da minha geração, fui agraciado com as melhorias coletivas que ela, dona Socorro, implantou num Município pobre e pequeno num período em que os prefeitos reclamavam ainda mais da falta de recursos financeiros.

Socorro de Paulo, Socorro de Grosso, Socorro de Marivi, ou simplesmente dona Socorro: onde estiveres – e tenho certeza que estás num bom lugar à sombra do Pai Celestial -, escute o meu agradecimento. É o reconhecimento de um garoto pobre que sempre recebeu da senhora aquela dose de carinho meio rara de se encontrar em dias de hoje.

Que seu descanso seja eterno, como nossa saudade!

Alcimar Antonio de Souza.

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