Vem aí: O Velho Chico
*Caramurú Paiva
Foi marcante para mim o período de 29 de fevereiro a 03 de março de 2016. Nestes dias estive com dezenas de pessoas interessadas em conhecer a dimensão, o estado atual e as condições das famílias em torno do Projeto de Integração de Bacias do Rio São Francisco. Numa atividade organizada pelos bispos da igreja católica do Nordeste participaram lideranças dos movimentos do campo, parlamentares, jornalistas, gestores municipais, representantes dos Governos Estaduais e o Governo Federal através dos Ministérios da Integração Nacional, do Desenvolvimento Agrário, do Desenvolvimento Social e da Secretaria de Governo.
Fizemos o percurso inverso ao curso da água que será conduzida pelo Eixo Norte. Começamos em Açu/RN observando o volume de água atual da Barragem Armando Ribeiro. Em seguida, fomos à barragem de Oiticica, em Jucurutu/RN, aonde verificamos o andamento da construção deste reservatório; logo após passamos em Caicó/RN, depois fizemos uma visita mais prolongada no açude Engenheiro Ávidos (Boqueirão), em Cajazeiras/PB, que será o último ponto de recebimento da água do São Francisco antes de cair na bacia do Piranhas-Açu. Seguimos em caravana com o objetivo de conhecer a gigantesca estação elevatória de Jati/CE. Finalmente chegamos ao município de Cabrobó/PE onde estivemos na primeira estação de bombeamento e prestigiamos a emoção do encontro do grupo com o “Velho Chico”.
A caminhada foi motivada pelas obras da integração de bacias do São Francisco, um projeto anunciado pela primeira vez em 1847, no governo imperial de Dom Pedro II. No entanto, ela só veio a ser iniciada em 2003, no primeiro mandato do Presidente Lula. A decisão trouxe muita esperança para a população do semiárido com o sonho de que a “transposição do São Francisco” se tornasse a solução para os problemas sociais, ambientais e os impactos na produção agrícola gerados pelas chuvas irregulares e as secas que caracterizam o clima dessa região. Mas este sentimento não foi geral na sociedade porque uma parte significativa dos movimentos sociais se opôs sob a argumentação de que era possível fazer a mesma solução com as tecnologias sociais e um investimento menor. A posição chegou ao extremo de Dom Frei Luiz Flávio Cappio fazer greve de fome contra o início dos trabalhos.
O projeto passou por alterações na proposta original para o melhor cumprimento do papel de integração de bacias do São Francisco e, passados 13 anos, encontra-se em estágio avançado de conclusão das suas grandes obras físicas. De acordo com Oswaldo Garcia, responsável pela condução dos trabalhos no Ministério da Integração Nacional, já foram superados 85% das construções nos 2 eixos de condução do projeto e a meta plausível é a conclusão plena em dezembro/16. Ao final serão ofertados 24 m3/segundo para os Estados do Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. No reservatório de Açu, a estimativa é de um reforço de 6 m3/segundo a partir de 2017.
Nos 5 Estados a integração de bacias do São Francisco vai atender 12 milhões de um total de 18 milhões de pessoas que estão no entorno do percurso da transposição. O projeto funcionando sem sombras de dúvidas contribuirá para elevação do nível de segurança hídrica do semiárido. Este é um grande e o principal papel da integração de bacias do São Francisco. Ele se somará ao aumento da capacidade de armazenamento de água que já aconteceu com as cisternas, barragens subterrâneas, barragens sucessivas, poços, adutoras, açudes, barreiros e outras formas de estoque de água existentes em nossa região. É importante observar que VAI MELHORAR A SEGURANÇA HÍDRICA, mas não vai ser a solução definitiva para o déficit hídrico do semiárido.
Ainda esperamos a conclusão e ainda existem dúvidas sobre a gestão, ao mesmo tempo os projetos sociais e ambientais estão em execução levando a dúvidas que são apontadas pelos movimentos sociais e representações das populações que estão próximas do curso das águas do São Francisco. Apesar disso, a integração de bacias do São Francisco é uma obra muito arrojada com poucos paralelos no mundo realizada, sobretudo, por conta principalmente de um enorme esforço político do ex presidente Lula e da Presidenta Dilma. A obra pronta tem condições plenas de oferecer um volume de água de muitíssima importância para a região e se tornou ainda mais esperada com a realidade atual de 5 anos de chuvas abaixo do normal.
As ideias expressas acima traduzem a maior parte do sentimento transformados em texto que trago de uma viagem que ficará na minha memória de sertanejo de nascimento, de extensionista de formação e de gestor neste momento. Depois de 3 dias de caravana, a imagem do Velho Chico contagiou e emocionou a todos e todas, sobretudo, quando o bispo Dom Magno citou a encíclica do Papa Francisco “laudato si” e a história de vida de São Francisco de Assis para lembrar do nosso compromisso com a preservação da natureza. E o ser humano é uma grande obra que deve caminhar em harmonia com todo meio ambiente.
“Meninos/as eu vi” o VELHO CHICO e o que ele representa para os sonhos do semiárido.
* Caramurú Paiva: engenheiro agrônomo, especialista em gestão ambiental e Delegado Federal do Desenvolvimento Agrário no RN.
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