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quarta-feira, 27 de junho de 2018

Especial: RAYRON MONTIELLY: talento & potencialidades

                                                                           Por Márcio de Lima Dantas
                                                                                   Professor do Departamento de Letras da UFRN

Rayron Montielly de Lima Costa nasceu em Mossoró em 30 de dezembro de 1990. Suas primeiras imagens pictóricas remontam ao fato da mãe ser costureira para si e para as irmãs. Tal atividade lhe despertava atenção. O corte do tecido em partes e depois costurar as peças num todo, criando uma peça do vestuário, com suas combinações e adornos.
Ainda bastante jovem, e experimentando as técnicas e a justaposição de cores, na sua obra produzida até agora, divisa-se um talento que, com a disciplina e o domínio técnico, virá a ser um dos principais expoentes das artes plásticas produzidas em Mossoró. Visto haver no seu trabalho e na sua fala uma consciência assumidamente experimental. Ou seja: a dynameis aristotélica busca o seu número, o seu âmbito e sua inquieta vontade do vir-a-ser. O futuro insculpirá o pintor em alguma tradição das artes plásticas em Mossoró.
O conhecimento da geometria vem do ensino médio, no qual se sentiu fortemente atraído pelo Teorema de Pitágoras. Não só entendeu com bastante propriedade, mas viu como utilizá-lo nas artes plásticas. Sobretudo que efeito causaria o seu manuseio, gerando infinitas possibilidades de apreensão e composição.
Tenho para mim, que em sua curiosidade, passou a inquirir acerca das formas geométricas que nem sempre se manifestam nos objetos, contudo estão ocultas, subentendidas, possibilitando conferir uma outra ordem que não a do chamado real concreto, implicando numa harmonia, assim como um vestido depois de pronto.
Esboçarei uma classificação provisória e creio não abarcar tudo o que produziu, na medida em que tive acesso apenas a uns poucos trabalhos. A saber: o retrato de pessoas desenhados em lápis grafite, as telas, o grafite mural, em portões e muros e a pintura acrílica sobre tela, com forte caráter de representação naturalista.
Em algumas telas e no grafite mural, apropria-se de maneira livre da imagem das dobras de papel do Origami japonês para compor panos-de-fundo no qual insere imagens figurativas, muitas vezes de caráter regional, com fortes traços emanados da xilogravura. Procede desse modo, a uma ousada síntese entre culturas tão distintas, no qual a aproximação de duas tradições logrou êxito no seu intento.
Os polígonos de três lados, com predominância do triângulo retângulo, quase sempre em cor pastel, refratando a cor mais ardente, engendra um efeito elegante de ocupação do espaço ou do suporte no qual se encontra impresso. Os triângulos tanto são sobrepostos como formam ângulos entre si, numa cadeia causadora de um efeito bastante agradável de se contemplar, sobretudo quando o suporte não é uma tela ou uma parede, obtendo forte poder decorativo, como no caso do trailer amarelo, no qual funciona uma tabacaria. Sendo que aqui, durante a noite, é iluminada interiormente por uma luz infravermelha ou superazul, causando no expectador a ilusão de relevo e profundidade. O efeito estético é precioso, na medida em que um objeto que foi edificado para um deter valor utilitário passa a adquirir estatuto de obra de arte. É uma apropriação bastante interessante enquanto intervenção urbana, pois sucede uma reinterpretação de um suporte que integra a paisagem, interagindo ao transformar algo prosaico em objeto de arte.
Nesse primeiro momento da sua produção artística, o triângulo parece se inscrever como seu mito obsessional, haja vista que também se manifesta nas telas e nos grafites, agora não mais como o elemento que define o núcleo ideativo da obra, mas como espécie de horizonte em segundo plano nos quais o figurativo promete gerar o signo pictórico, ou seja, o “assunto” da tela. Basta ver os quadros nos quais estão presentes Lampião e Maria bonita. Há uma deliberada e livre vontade, uma consciência do efeito causado quando do uso do polígono de três lados como elemento da composição, gerando inusitado conjunto pictórico. Mormente quando  emprega técnica do stencil e da tinta spray.
Com relação ao grafite, é de somenos importância dizer o consabido. Está ligado ao movimento Hip Hop (EUA, 1970), configurando-se como uma das três vertentes desse movimento de crítica ao status quo da sociedade americana, oriundo que é da comunidade negra e latina, Brooklin e Bronx. O grafite é uma das três vertentes no qual se plasmou: o rap (música), o break (dança) e o grafite (pictórico).
Rayron expressa-se de múltiplas formas, estendendo-se num arco de envergadura tensa que vai do figurativismo ao abstrato, deixando entrever tradições de culturas várias: arte negra, japonesa, nordestina. Ancorando-se consciente ou inconscientemente no espírito que engendrou o movimento inicial do grafite, que se manifestou como forma de questionar o isolamento e o preconceito contra determinadas populações ou etnias.
Enfim, tratarei do desenho e da pintura de cunho naturalista, no qual demonstra sua habilidade com as formas clássicas de representação do real. Aqui estão presentes os trabalhos com lápis grafite de pessoas, num jogo de luz e sombra, representando com bastante propriedade o ethos das pessoas, por meio de uma habilidade em capturar pelos lábios e pela expressão dos olhos o que eventualmente dá contorno à alma.

Tenho para mim, que a tela do caju amarelo, dos pares de jambos fúccia e da pitaia, fruta do cacto, são uma espécie de prova dos nove, se resta a alguém alguma dúvida sobre o talento e as potencialidades vindouras desse jovem artista das terras quentes de Mossoró.

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