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sábado, 6 de janeiro de 2018

Lançamento de Livro

Histórias dos Cabarés de POMBAL

DE FREJO A ROI COURO: EU ESTIVE LÁ E VOCÊ? 




Jerdivan Nóbrega de Araújo
Jerdivan Nóbrega de Araújo*

A maioria dos cabarés de cidades do interior foi localizado depois da “linha do trem”: em Pombal essa regra não foi diferente. A ideia era aproveitar os caixeiros viajantes que vinham de trem (a estação de Pombal foi inaugurada em 1932) a cidade, oferecendo a estes um lugar para o divertimento, e quanto mais próximo da estação de trem mais fácil seria atrai-los.
Com a passagem da rede férrea, esperava-se que a cidade tomasse um impulso, recebendo comerciantes interessados em se instalar por aqui. Para tanto, era preciso esconder a sua miséria, tangendo os desassistidos para as periferias. Assim foi criado o Código de Postura Municipal em 1936 através do qual a cidade passou por algumas transformações estruturais.
As casas do centro, não apenas as mais humildes eram mal planejadas, conjugadas entre si, e sem janelas laterais, o que prejudicava a ventilação, contribuindo para a proliferação de doenças: foi o que escreveram no Código de Postura.

As edificações que fugiam aos padrões estabelecidos pelo Código de Postura, as quais os proprietários não tinham condições financeiras para reformá-las, foram demolidas mediante a indenização. Outros proprietários preferiram vendê-las, cedendo os terrenos aos mais afortunadas, surgindo nos locais casas modernas com mais janelas e melhor ventilação.
Os antigos proprietários fugiram para as periferias, formando um anel de pobreza em torno da cidade, onde inevitavelmente surgiram os bares, casas de jogos e de prostituição.
Nesse período já existiam na cidade alguns bares que funcionavam como bordéis, de forma discreta, além de casas de prostituição situadas em locais isolados da periferia, isso antes da passagem da linha férrea, a exemplo da Casa de Recurso de Zé Vitalino, que abriu o seu cabaré em mil novecentos e trinta, fechando em mil novecentos e quarenta e sete. Ele antecedeu Love no Casarão da Rua da Rodagem. Love explorou essa atividade no Casarão de mil novecentos e quarenta e sete até mil novecentos e setenta e três.
Havia ainda os cabarés de Mulherzinha, o de Mocinha e o de dona Dodóia.
Com a inauguração da Estação Ferroviária, que passou a ser o principal local de encontro dos jovens da cidade, as casas de prostituições se concentraram mais próximos da rede férrea, com atrações como forró ao vivo e cassinos.
Os seus proprietários passaram a utilizar o trem para recrutar prostitutas de outras regiões, como Crato, Campina Grande e até de Fortaleza, para melhor atender aos caixeiros viajantes que pernoitavam na cidade, vindos nos trens para negociar em Pombal.
O Bairro dos Pereiros, que já existia antes da instalação da linha do trem, era habitado por famílias de operários que, muito embora sofressem preconceitos por residirem nos limites dos cabarés, não tinham nenhuma relação com aquele ambiente.
Depois da seca de mil setecentos e setenta e sete, a cidade foi acometida por uma epidemia do cólera-morbo, vitimando centenas de almas, ao ponto de ser necessário construir um cemitério somente para sepultarem as pessoas vitimadas pela terrível epidemia, que para ali eram levadas em redes, e enterradas em covas rasas, sem cerimoniais ou quaisquer rituais cristãos, o que lhes valeu o nome de Cemitério do Cólera.
As terras daqueles arredores do Cemitério do Cólera eram consideradas malditas e foram completamente abandonadas, já que ninguém se atrevia a violar os escombros, temendo novo surto epidêmico ou, como muitos diziam, por ser um lugar amaldiçoado e de aparições de assombrações. Mas, para quem não tinha onde cair morto, pouco essas histórias lhes interessavam ou lhes amedrontavam. Foi nessas terras insalubres que surgiram os pequenos casebres, que aos poucos se transformaram em casa de recurso, surgindo na sua periferia os cabarés, casas de jogos e bares. Aos poucos, a área mais além do Bairro dos Pereiros passou a ser definida e delimitada como Rua dos Cabarés e, mais tarde, de Rua do Rói-Couro.
Antes da decadência os principais cabarés de Pombal foram os seguintes: Cabaré de Maria do Menino, Cabaré Nega de Côca, Cabaré Mulherzinha, Cabaré Mocinha, Cabaré Dodóia, Tiquinha, Cabaré Palmira, Cabaré de Nomemi Cabaré Chico Novo, Cabaré de Love e Cabaré de Anaia . Nos dias atuais ainda resiste o Cabaré das Casa dos SSolteiros , Cabaré bar das Meninas e o Bataclan.
A denominação Cabaré não era muito utilizada na cidade de Pombal. O nosso povo costumava denominar os bares do baixo meretrício de “Frejo”.
Porém a denominação de “ROI-COURO para cabaré teve origem em nossa cidade, isso na década de 1960.
O batismo foi do Zé Bezerra, bancário escritor autor do livro que deu origem ao filme “Fogo, o Salário da Morte”. Era comum na década de 1960, os frequentadores do “frejo” serem acometidos de doenças venéreas. Dizia-se que muitos deles tinham o couro do pênis corroído de tantas doenças. Dai a associação do lugar ao “ROI-COURO” que é a junção de “roer” mais “couro”.

Sabendo que filólogo Aurelio Buarque de Holanda estava prospectando palavras novas para a atualização do seu famoso dicionário, Ze Bezerra, inquieto que era, enviou para o professor o neologismo “RÓI COURO”, que passou a constar no “Aurélio” da seguinte maneira:

“Rói-couro na definição do Dicionário Aurélio
Rói-couro: De roer + couro; var. de rói-coiro) S. m. Bras., PB. Pop. Rua ou bairro onde se localiza o meretrício; zona (Pl.: rói-couros)”
E esse um resumo da história do rói - couro de Pombal.

*Escritor e pesquisador pombalense

FONTE: https://clemildo-brunet.blogspot.com.br/2018/01/historias-dos-cabares-de-pombal.html

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